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Braskem 'ignora' crise de controladores e lidera ganhos na Bolsa

Beto Macário/UIOL
Imagem: Beto Macário/UIOL

Gerson Freitas Jr.

01/12/2015 15h45

(Bloomberg) -- A Braskem, maior fabricante de produtos petroquímicos da América Latina, é uma improvável candidata ao posto de ação com melhor desempenho dos mercados emergentes.

Além de estar no Brasil, onde a demanda encolhe em meio à mais longa recessão desde os anos 1930, suas duas controladoras –a Petrobras e a Odebrecht– estão envolvidas em escândalos.

O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, está preso há mais de cinco meses sob a acusação, negada por ele, de ter participado de um esquema de subornos em troca de contratos com a Petrobras.

A própria Braskem teve seu escritório em São Paulo vasculhado pela Polícia Federal em junho como parte da investigação envolvendo a Odebrecht.

Nada disso impediu as ações da Braskem de subirem 90% neste semestre, impulsionadas pela desvalorização do real e a maior exposição ao mercado crescente da América da Norte.

Os papéis da companhia registram o melhor desempenho entre as 837 ações que compõem o MSCI Emerging Markets Index desde o fim de junho –o terceiro melhor, quando os retornos são calculados em dólares–, mostram dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

As ações do índice da MSCI caíram em média 15% no período, enquanto o Ibovespa, índice de referência da Bolsa brasileira, está em baixa de 32%, na variação em dólares.

"É uma surpresa, considerando a fragilidade de seus principais acionistas", afirma Michael Roche, estrategista da Seaport Global Holdings, por telefone, de Nova York.

Segundo ele, o arrefecimento das preocupações quanto às possíveis implicações da investigação para a empresa permitiu que os investidores se concentrassem na melhora de seus resultados. "A Braskem sempre teve boa reputação. Trata-se de uma empresa sólida, com grau de investimento".

Novas plantas

Prestes a concluir um complexo petroquímico de US$ 5,2 bilhões em parceria com o Grupo Idesa no México, a Braskem caminha para obter a maior parte de suas receitas no exterior, reduzindo sua exposição à combalida economia brasileira.

Segundo projeções da empresa, o mercado doméstico deve responder por, no máximo, 49% de suas receitas em 2016, ante 52% neste ano e 57% de 2014.

A Braskem também está planejando construir uma fábrica nos EUA para transformar gás natural de baixo custo no polipropileno utilizado em embalagens plásticas e em peças de carros.

"Estamos procurando vender e produzir resina no exterior, o máximo possível, para compensar o declínio no mercado interno", declarou o presidente da Braskem, Carlos Fadigas, a jornalistas em São Paulo no mês passado. A Braskem preferiu não comentar o desempenho de suas ações e a investigação envolvendo suas acionistas controladoras.

Lava Jato

As investigações da Lava Jato abalaram a maior economia da América Latina. A Petrobras, um dos principais motores de crescimento do país nos últimos anos, está em dificuldades.

Companhia mais endividada em todo o mundo, entre as classificadas com grau especulativo, a estatal está cortando bilhões de dólares em investimentos e ajudando a empurrar o índice de desemprego ao nível mais elevado desta década.

O real perdeu 31% de seu valor neste ano, o pior desempenho entre as principais moedas do mundo. A economia deve encolher 3,19% neste ano e 2,04% no próximo, segundo a pesquisa semanal do Banco Central com agentes do mercado. As ações preferenciais da Petrobras caíram 40% neste semestre.

A Petrobras e a Odebrecht não responderam imediatamente aos pedidos de comentário sobre as investigações ou sobre a reação do mercado às investigações.

A Braskem foi formada em 2001 depois que a Odebrecht consolidou algumas aquisições após a privatização da indústria petroquímica do Brasil.

A Petrobras, que possuía 10% da empresa, aumentou sua participação por meio da combinação de ativos e de uma injeção de capital. A Odebrecht e a Petrobras possuem, atualmente, um total combinado de 74% da Braskem.