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Recessão no Brasil interrompe sonho de empresas aéreas

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Imagem: Divulgação

Fabiola Moura

03/12/2015 15h07

(Bloomberg) -- O novo terminal do aeroporto de Viracopos, fora da cidade de São Paulo, custou US$ 800 milhões e foi um esforço para criar o maior hub da América Latina -- maior que o Heathrow, de Londres -- até 2042.

Mas os seus corredores amplos e modernos, planejados no pico dos anos de prosperidade do Brasil, estão virtualmente vazios, exceto pelos funcionários, em um momento em que o país atravessa sua pior recessão em 25 anos. O desemprego atingiu 7,9% em outubro e não se espera que a economia mude de direção até no mínimo 2017.

As decisões da Copa e da American Airlines de suspender os voos de Viracopos provavelmente deixarão a Azul como a única operadora do aeroporto com serviço internacional a partir de fevereiro. A Azul, que voa diariamente para a Flórida, não pretende oferecer o serviço para Nova York a partir de Viracopos antes de julho, pelo menos.

Os corredores vazios de Viracopos ecoam os problemas mais amplos enfrentados pelo setor aéreo do Brasil. As viagens aéreas domésticas caíram 5,3% em outubro em relação ao ano anterior, registrando a terceira queda mensal seguida e a maior em seis anos, segundo a Anac. O crescimento das viagens internacionais desacelerou bruscamente.

"Não esperamos uma melhora nos próximos 24 meses", disse Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas, a Abear, na semana passada. "Os números vão piorar em 2016 e continuarão ruins em 2017".

A Azul, que tem a terceira maior participação de mercado no Brasil, disse na segunda-feira que reduziria sua capacidade em até 5 por cento no ano que vem.

A Gol e a Latam, as maiores empresas aéreas do Brasil, disseram nos últimos meses que estão reduzindo a capacidade e adiando entregas de aviões.

A Gol está aumentando o subleasing de aeronaves para outras operadoras. Novas reduções na capacidade e adiamentos de entregas de aviões, assim como reduções nos empregos, podem estar no horizonte de todo o setor.

O novo terminal foi construído para suportar o crescimento da demanda pelo menos nos próximos dez anos, e 552 mil passageiros em viagens internacionais passaram pelo aeroporto neste ano, em comparação a 65 mil em 2014, segundo um comunicado do grupo que opera Viracopos.

Reduzindo capacidade

Outras empresas aéreas precisam reduzir a oferta, disse Stephen Trent, analista do Citigroup. A capacidade doméstica deverá cair cerca de 5% no ano que vem, escreveu Savanthi Syth, analista da Raymond James Financial, em um relatório de 23 de novembro.

A evaporação da demanda não é o único fantasma que assombra as empresas aéreas. O real caiu 31% em relação ao dólar neste ano, maior declínio entre as principais moedas. Isso pressionou os custos atrelados à moeda americana -- como os de combustível, manutenção e aluguel de aeronaves, cerca de 60% do total.

"O valor do real foi para tudo quanto é lado neste ano", disse Trent. "Há partes no mercado que tratam as empresas aéreas como completos desastres quando o dólar está ficando mais forte e de repente tratam as empresas aéreas como operadoras de milagres" quando o real se valoriza. "Não acho nenhum desses tratamentos justos, mesmo sabendo que o câmbio tem um impacto muito importante".

Pensando bem

As empresas aéreas estão lidando com a situação de várias formas. A unidade brasileira da Avianca, quarta maior operadora do país em participação de mercado, diz que provavelmente manterá o tamanho de sua frota estável no ano que vem após receber oito jatos de médio alcance Airbus A320 para modernizar sua frota, aumentando a capacidade de assentos em 15% neste ano.

"Eu confesso que se tivéssemos que ter tomado esta decisão em janeiro deste ano, nós provavelmente não teríamos feito isso", disse recentemente o presidente da Avianca Brasil, José Efromovich, a repórteres.

Na semana passada, a Azul fechou um acordo para a venda de uma participação de 24 por cento ao conglomerado chinês HNA Group por R$ 1,7 bilhão (US$ 440 milhões) para levantar dinheiro para reduzir dívida e renovar sua frota. O CEO Antonoaldo Neves disse na segunda-feira que além do corte na capacidade, a empresa aérea provavelmente aposentará alguns de seus jatos mais antigos e que não espera realizar uma oferta pública inicial em 2016. A Azul já adiou seu IPO (lançamento de ações na Bolsa) três vezes.