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Desvalorização na Argentina deixa notas em peso mais atrativas

Carolina Millan

22/12/2015 15h34

(Bloomberg) -- Durante anos, os argentinos foram obcecados em acumular todos os dólares que podiam porque a inflação excessiva reduzia o valor do peso.

Agora isso está começando a mudar.

Apesar de a decisão do país de deixar a moeda operar livremente, tomada na semana passada, ter gerado uma desvalorização de 27 por cento, a demanda por notas de curto prazo praticamente dobrou no leilão do banco central dois dias antes. O governo elevou as taxas de juros em cerca de um terço, para um máximo de 38 por cento, para as notas que vencem em 35 dias. A medida fez parte dos esforços para evitar um colapso completo da moeda local mantendo os investidores nos ativos em pesos.

Até o momento, parece estar funcionando. O peso subiu 4,2 por cento desde a desvalorização de quinta-feira, um sinal de que os investidores não estão correndo para recolher dólares após a remoção dos controles cambiais. Os traders de bonds podem agora comprar notas do banco central com taxas de juros equivalentes a 300 vezes o yield de 0,12 por cento dos treasuries de um ano.

"A magnitude desse aumento das taxas é enorme", disse Rafael Di Giorno, diretor da Proficio Investment em Buenos Aires. "Agora é a hora de começar a procurar instrumentos em pesos e, entre eles, as notas do banco central são os mais sólidos".

Na semana passada, a autoridade monetária vendeu notas de 98 dias com yield 8,46 pontos porcentuais mais altos em relação ao leilão anterior. O banco recebeu 23,4 bilhões de pesos (US$ 1,8 bilhão) em ofertas, quase duas vezes o montante habitual. As taxas de juros podem continuar subindo no momento em que o banco central se concentra em reduzir a inflação, disse o Barclays em um relatório no dia 18 de dezembro.

Flutuando livremente

O aumento das taxas, que o banco controla decidindo quais ofertas aceita nos leilões, veio apenas dois dias antes de o novo presidente da Argentina, Mauricio Macri, permitir que o peso flutuasse livremente após prometer em campanha acabar com os controles cambiais que estão em vigor desde 2001 e implementar as políticas favorecidas por investidores e empresas. Ele disse que um peso mais competitivo era um elemento fundamental de seus esforços para atrair dólares para o país e reconstruir as reservas, que haviam caído ao menor nível dos últimos nove anos quando ele assumiu, em 10 de dezembro.

As taxas Lebac provavelmente ficarão altas pelos próximos três meses enquanto a autoridade monetária absorve a excessiva liquidez de pesos no mercado, tornando-os mais atrativos para os investidores que querem manter ativos na moeda até o vencimento, segundo Mariano Tavelli, presidente da corretora Tavelli & Co, com sede em Buenos Aires. Ele prevê que quando as expectativas para a inflação estiverem sob controle o banco central reduzirá as taxas aplicadas às suas notas.

"A ideia é tirar vantagem das taxas altas no curto prazo", disse Tavelli. "Vemos o yield desses bonds como muito superior ao dos bonds em dólares".

Título em inglês: Argentina Devaluation Suddenly Makes Peso Notes More Attractive

Para entrar em contato com o repórter: Carolina Millan em Buenos Aires, cmillanronch@bloomberg.net Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto, tmarotto1@bloomberg.net Patricia Xavier