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Emergentes aceitam moeda mais fraca e preservam reservas

Narong Sangnak/Efe
Imagem: Narong Sangnak/Efe

Ye Xie e Andrea Wong

04/01/2016 15h02

(Bloomberg) -- Os países em desenvolvimento estão aceitando a maior competitividade decorrente da surra que suas moedas têm levado, deixando suas reservas intactas.

As reservas internacionais nos doze maiores mercados emergentes, excluindo a China e os países cujas moedas têm ligações, caíram cerca de 2%, para US$ 2,8 trilhões em 2015, segundo dados compilados pela agência de notícias Bloomberg.

A queda real pode ser menor, pois o fortalecimento do dólar reduziu o valor de outras moedas de reserva, como o euro.

Enquanto a China consumiu mais de US$ 400 bilhões em reservas para estabilizar o yuan no ano passado, a maioria dos outros países em desenvolvimento, como a Rússia e a Tailândia, está tolerando a desvalorização das moedas para sustentar as exportações.

Com preços mais baixos para as commodities (matérias-primas) e uma dívida limitada dos governos em dólares, as taxas de câmbio mais fracas não alimentaram a inflação nem minaram o financiamento público como antes.

Isto sugere que os bancos centrais não devem ficar no caminho de novas perdas em moedas de mercados emergentes, a menos que a queda fique fora de controle.

"Estamos em um ambiente no qual é relativamente benigno permitir que as moedas se enfraqueçam", disse Alan Ruskin, um dos diretores globais de pesquisa sobre taxas de câmbio do Deutsche Bank em Nova York. "Os países com flexibilidade cambial têm utilizado essa flexibilidade".

Amplo declínio

As 24 principais moedas de mercados emergentes, com a exceção do dólar de Hong Kong, caíram frente ao dólar em 2015, pois um crescimento econômico mais lento, a queda nos preços das commodities e o primeiro aumento das taxas de juros nos EUA em quase uma década provocaram fluxos de saída de capitais.

Um indicador de moedas de mercados emergentes da Bloomberg caiu cerca de 15% no ano passado, após o declínio de 12% em 2014, o pior desempenho em dois anos desde pelo menos 1999.

Ainda assim, a maioria dos responsáveis pelas políticas optou por deixar as moedas sozinhas.

A Rússia não utilizou suas reservas de US$ 369 bilhões em 2015 apesar de o rublo ter caído 19%.

Coreia do Sul e a Tailândia conservaram suas reservas de US$ 368 bilhões e US$ 148 bilhões, respectivamente.

A Índia até aproveitou a estabilidade da rúpia para aumentar as reservas em 11%, para US$ 328 bilhões.

Até mesmo na China, há sinais de que o banco central está adotando uma tática diferente para preservar os US$ 3,4 trilhões em reservas internacionais.

Mudança

Historicamente, uma crise cambial provoca calotes soberanos, falências bancárias e hiperinflação nos países em desenvolvimento. Dessa vez, os efeitos colaterais têm sido contidos.

Hoje, os governos tomam dinheiro emprestado principalmente em suas próprias moedas, limitando sua exposição ao risco cambial.

A dívida em moeda estrangeira dos países em desenvolvimento caiu de 40% do seu PIB em 1999 para 25 % em 2013, segundo o FMI.

Embora as empresas tenham acumulado dívidas em dólares, três anos de desvalorização cambial não resultaram em uma série de calotes corporativos.

Isto sugere que as empresas são exportadoras que recebem receita em dólares ou estão fazendo hedge de sua exposição cambial.

Quanto à inflação, o declínio de 25% nos preços das commodities no último ano tirou um pouco de pressão dos custos ao consumidor.

O FMI estimou que a inflação nos mercados emergentes caiu de uma média de cerca de 6% em cinco anos para 5,5% em 2015.

"A dinâmica das moedas e das reservas está realmente mudando", disse Robert Sinche, estrategista global da Amherst Pierpoint Securities em Nova York.

"Nós estamos mudando para um mundo onde os países estão muito mais dispostos a deixar suas moedas absorver o choque e continuar a manter suas reservas acumuladas".