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Sete Brasil decide este mês se pede recuperação judicial, segundo fontes

Francisco Marcelino, Cristiane Lucchesi e Peter Millard

06/01/2016 16h21

(Bloomberg) -- O Grupo BTG Pactual e outros investidores na Sete Brasil vão se reunir este mês e decidir se a empresa vai entrar com pedido de recuperação judicial após a queda nos preços do petróleo e a citação do nome da empresa na Operação Lava Jato, disseram quatro pessoas com conhecimento do assunto.

Os acionistas podem votar por buscar a proteção legal contra os credores em uma reunião em 21 de janeiro, o que seria o primeiro passo para uma eventual liquidação dos ativos da empresa, de acordo com as pessoas, que pediram anonimato porque as discussões são privadas. Uma pessoa disse que o encontro deste mês não deve aprovar o pedido de recuperação judicial e considera que a Sete Brasil pode ainda conseguir se restruturar.

A Sete Brasil, que teve ambições de construir a maior frota de sondas de perfuração de petróleo em águas profundas do mundo, junta-se a mais de uma dezena de empresas paralisadas pela investigação de corrupção que já dura 22 meses e que ajudou a colocar o Brasil em recessão e deixou os líderes do País lutando por sua sobrevivência política. Um possível pedido de recuperação judicial pode marcar o início de uma nova onda de sofrimento financeiro para as empresas brasileiras, visto que os seus principais acionistas, incluindo a Petrobras, os maiores bancos brasileiros e fundos de pensão, podem ser forçados a contabilizar como prejuízo empréstimos e participações na empresa.

"Reestruturação viável"

A empresa entrou em dificuldades financeiras depois de ver frustrada a tentativa de garantir um empréstimo do BNDES após notícias de cobrança de propinas surgirem nas investigações da Lava Jato e depois que a Petrobras, seu único cliente, começou a cortar investimentos. A Sete Brasil disse em um comunicado enviado por e-mail que "segue trabalhando para viabilizar um plano de reestruturação, estando sob análise de seus acionistas diferentes cenários estratégicos a serem perseguidos."

Os acionistas que investiram um total de R$ 8,25 bilhões no capital e credores de dívida de US$ 3,6 bi em empréstimos de curto prazo com vencimento em fevereiro podem ser forçados a contabilizar as perdas caso a Sete entre com pedido de recuperação judicial, de acordo com as pessoas. Além do BTG, os investidores incluem Banco Santander e Bradesco, entre outros. Credores como Bradesco, Itaú BBA, Banco do Brasil, Santander, Standard Chartered e a Caixa Econômica Federal rolaram repetidamente empréstimos da Sete Brasil desde outubro de 2014 em uma tentativa de ajudar a empresa a sobreviver, disseram as pessoas. A empresa também está atrasada no pagamento de estaleiros contratados para construir suas plataformas, segundo o sindicato da indústria de construção naval no País.

O BTG, que investiu cerca de R$ 1 bilhão de seu próprio capital na Sete Brasil, já contabilizou a maior parte disso como perda no terceiro trimestre de 2015, disse João Dantas, diretor de relações com investidores, quando os resultados foram divulgados em novembro, sem fornecer números exatos. Um fundo de private equity do BTG, que inclui a participação do banco e investimentos de clientes, controla 27 por cento da Sete Brasil, o que faz dele seu principal acionista individual. O BTG não quis comentar sobre um possível pedido de recuperação judicial da Sete Brasil.

Impulso local

A Sete Brasil, que tinha planejado construir 29 plataformas para a Petrobras, já fez investimentos de US$ 7,1 bilhões até agosto, de acordo com informações em seu site. Quando foi fundada em maio de 2011, a empresa foi um dos pilares da campanha do governo para estimular as empresas de petróleo a usar componentes locais de peças e equipamentos após a maior descoberta de petróleo do Hemisfério Ocidental desde 1976 em águas profundas feita pela Petrobras.

A Petrobras tem ainda de assinar os contratos de leasing que foram modificados no plano de reestruturação da empresa que reduziria o número total de plataformas a serem arrendadas de 28 para 14, de acordo com as pessoas. A Petrobras não quis comentar.

A Petrobras detém uma participação de 9,4 por cento na Sete Brasil, enquanto os fundos de pensão da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal detêm cerca de 38 por cento da empresa, de acordo com comunicados públicos. O Santander controla 7 por cento e o Bradesco possui 3 por cento, disse uma pessoa.

Decisões de provisão

O Bradesco não fez provisões para empréstimos concedidos à Sete Brasil até o terceiro trimestre, disse o presidente Luiz Carlos Trabuco Cappi a repórteres em 10 de dezembro.

A Sete Brasil foi envolvida no maior escândalo de corrupção do Brasil após o ex-diretor de operações Pedro Barusco testemunhar em um acordo de delação que aceitou propina em troca da concessão de contratos. A Sete Brasil disse que está cooperando com as autoridades na investigação.

O BTG contabilizou perdas na Sete Brasil antes da prisão do ex-presidente André Esteves, no dia 25 de novembro, por supostamente tentar impedir um depoimento em um caso de corrupção não relacionado com a Sete Brasil. Esteves negou qualquer irregularidade por meio de seus advogados. Em 17 de dezembro, o STF revogou a prisão de Esteves e disse que ele deve permanecer em prisão domiciliar.