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Não é bom sinal econômico que ações de sabão liderem Bolsas nos EUA

Anna-Louise Jackson

13/01/2016 17h58

(Bloomberg) - As ações que agora têm o melhor desempenho nos EUA são as que geralmente se saem bem quando a economia anda mal: as fabricantes de produtos de todos os tipos, desde produtos de limpeza doméstica a alimentos. Essa é mais uma nuvem escura no horizonte de investidores preocupados com a desaceleração do crescimento.

As ações de artigos de consumo no Standard Poor's 500 Index - que inclui Procter Gamble Co. e Coca-Cola Co. - ultrapassaram o indicador de referência em sete semanas consecutivas, o período mais longo desde novembro de 2007, quando a economia dos EUA estava prestes a entrar em sua mais recente depressão. As cotações também deram um salto e a razão entre preços e ganhos do grupo ficou 14 por cento acima da média de cinco anos, mostram dados da Bloomberg.

"A liquidez está saindo do mercado, o risco está sendo eliminado", disse Walter Todd, que administra cerca de US$ 1,1 bilhão como diretor de investimentos da Greenwood Capital Associates LLC na Carolina do Sul. "Isso está se manifestando em todos os mercados: compra de empresas de serviços públicos e de artigos de consumo, venda de empresas de valor de mercado pequeno. Isso reflete claramente a incerteza existente em relação à economia".

As ações de empresas de serviços públicos e de artigos de consumo são os únicos grupos que conseguiram obter ganhos no S&P 500 durante os últimos seis meses. O indicador já despencou 5,2 por cento até agora em 2016 em meio a novos temores em relação à China e a um êxodo das commodities, e os investidores estão tendendo para setores defensivos, cujos lucros dependem menos do crescimento econômico.

Grupos defensivos

Esses grupos defensivos estiveram na liderança durante duas das últimas vezes que as ações dos EUA caíram em mercados baixistas. Quando o S&P 500 despencou 57 por cento entre outubro de 2007 e março de 2009, os três setores cujas ações tiveram o melhor desempenho foram as empresas de artigos de consumo, de assistência médica e de serviços públicos. O cenário se repetiu de março de 2000 a setembro de 2001, quando a medida mais ampla caiu 37 por cento.

Empresas de serviços públicos, como Teco Energy Inc. e AGL Resources Inc., subiram mais de 33 por cento nos últimos seis meses, o que ajudou o setor a operar no patamar mais alto em comparação com o S&P 500 desde setembro, a última vez que as preocupações com a China assustaram os investidores.

Um fundo negociado em bolsa (ETF) que acompanha ações de empresas de serviços públicos atraiu US$ 232 milhões no dia 11 de dezembro, a maior entrada em mais de um ano. Mesmo assim, o ETF acabou registrando uma saída de US$ 907 milhões no trimestre passado. Enquanto isso, um ETF de artigos de consumo atraiu quase US$ 559 milhões desde o dia 1º de outubro, mostram dados compilados pela Bloomberg.

Céticos

Há muito ceticismo. As apostas curtas no ETF de empresas de serviços públicos mais do que quadruplicaram, quando deram um salto de 2,7 por cento das ações em circulação, em outubro, para 12,5 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg e pela empresa de pesquisa Markit Ltd. Do mesmo modo, as apostas baixistas no fundo de artigos de consumo triplicaram nos últimos dois meses.

Os investidores estão tentando recuperar o ponto de apoio depois do pior começo de ano já registrado para as ações dos EUA.

"Os mercados estão desorganizados em relação ao que é atraente e ao que não é, e existem algumas lacunas bem grandes", disse Jason Pride, diretor de estratégia de investimento da Glenmede, que administra US$ 30 bilhões, na Filadélfia. "Estamos adotando uma abordagem razoavelmente ativa nas ações dos EUA e talvez até com um viés para o lado mais seguro das ações dos EUA".