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Análise: o Banco Central está entre a cruz e a espada

Wilson Dias/Agência Brasil
Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Josué Leonel

14/01/2016 14h01

(Bloomberg) -- Criticado pelo mercado em 2011 por reverter inesperadamente a alta de juros, quando a inflação superava a meta e o mercado unanimemente previa estabilidade da taxa, o BC comandado por Alexandre Tombini hoje aparece em situação diferente: sustenta um discurso duro, capaz de mudar a previsão para a taxa básica de juros, a Selic, do maior banco privado do país, apesar de o aumento da taxa não ser consenso nem mesmo entre economistas de insuspeitas credenciais ortodoxas.

Na carta enviada ao Ministério da Fazenda, o BC teve uma oportunidade para mudar seu discurso e sinalizar que, diante da recessão, iria esperar um pouco mais antes de elevar o juro, diz Caio Megale, economista do Itaú Unibanco.

Como o BC não mudou o discurso, foi um sinal de que o plano de elevar a Selic está mantido, o que levou o Itaú a alterar sua previsão de Selic estável para uma alta de 0,5 ponto percentual no Copom da semana que vem.

Recessão

Com o mercado prevendo uma recessão de quase 7% no biênio 2015-2016, mesmo economistas conhecidos por suas posições severas contra a inflação, como o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore, têm defendido que o BC não deve elevar a Selic.

Subir a taxa com PIB muito abaixo do seu potencial seria um erro equivalente ao que foi o corte da taxa em 2011, disse ele ao Estado em 17 de dezembro.

Para Megale, do Itaú, tanto os argumentos pró quanto os contra a alta dos juros têm méritos. "O debate entre os economistas não é unânime. Não é uma questão entre ortodoxos e heterodoxos." 

Embora a atividade esteja "despencando", faz sentido o BC subir os juros porque a inflação está acima da meta, afirma Megale. "Estamos em um momento de política monetária muito complexo."

Megale considera que a queda do PIB, que deve repetir em 2016 o patamar de 3% após queda de 3,8% estimada por ele para 2015, deve ajudar a derrubar a inflação neste e no próximo ano.

Política fiscal

As commodities (matérias-primas) em baixa no exterior também devem contribuir para esfriar a alta dos preços. O ponto mais negativo para as expectativas continua sendo a incerteza com a política fiscal, ao lado do aumento acima do previsto dos transportes neste início do ano, diz o economista. 

"As políticas econômicas estão interligadas. Uma resposta tempestiva da política fiscal poderia ser acompanhada pelo Copom."

Georgette Boele, analista do banco holandês ABN Amro, vê o BC brasileiro "entre a cruz e a espada" ao ter de lidar com recessão e inflação ao mesmo tempo. Com a inflação acima de 10%, é difícil imaginar o BC não subindo os juros, diz Boele.

"Há também argumentos para não elevar o juro devido à economia, mas o BC deve subir a taxa diante das pressões inflacionárias."

A busca da credibilidade deve ser levada em conta pelo BC neste Copom, diz Arnaud Masset, do Swissquote Bank. "Após trabalhar duro para restaurar sua credibilidade, seria uma vergonha desistir agora", diz o analista do banco suíço. "Se os investidores perdessem a confiança no BC, o efeito seria mais devastador no longo prazo do que algumas altas de juros."

Com a colaboração de Paula Sambo