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Veteranos de Davos têm posições mais otimistas sobre China

Fabrice Coffrini/AFP
Imagem: Fabrice Coffrini/AFP

Simon Kennedy

18/01/2016 14h54

(Bloomberg) -- Há um ano, o premiê Li Keqiang disse ao Fórum Econômico Mundial, que seu país poderia evitar um pouso forçado. Com a cidade suíça de Davos se preparando a edição 2016 do encontro, participantes como o ganhador do prêmio Nobel Joseph Stiglitz e o CEO do Credit Suisse, Tidjane Thiam, dizem que ele ainda está certo.

A postura deles se choca com o recente sentimento nos mercados financeiros, onde a queda do yuan e de ações chinesas enviou ondas de choque aos mercados de commodities e ajudou a eliminar US$ 5 trilhões em ações no mundo todo, revivendo os temores sobre as perspectivas de crescimento global.

"Esse sentimento provavelmente deu uma guinada muito rápida para uma postura pessimista e cenários desfavoráveis exagerados", disse Tim Adams, ex-membro do Tesouro dos EUA especialista em China e agora presidente do Institute of International Finance. "No final, a China provavelmente vai imitar toda grande economia e voltar a crescer".

Os investidores estão cada vez mais preocupados com a China já que dados que serão divulgados na terça-feira poderão mostrar que a economia cresceu no ano passado ao ritmo mais fraco desde 1990.

Excesso de dívida

Também preocupa os investidores um excesso de dívida, estimado em US$ 28 trilhões, uma fraqueza na moeda que corre o risco de estimular desvalorizações competitivas em outros lugares, e a entrada em "bear market".

Com a China agora a segunda economia do mundo e responsável por cerca de 15% da produção global, a preocupação é que seus problemas vão se espalhar para outros países com cortes de importações de commodities e bens manufaturados. Um yuan mais fraco também ameaça levar a outro golpe desinflacionário.

Alguns economistas respondem que há motivos para otimismo porque os consumidores chineses ainda estão gastando, os preços dos imóveis estão se estabilizando, a demanda por exportações aumentou e há muito espaço para estímulo fiscal e monetário, se necessário. Embora o crescimento esteja diminuindo, a China está no caminho para crescer 6,5 por cento este ano, de acordo com a mediana das estimativas de economistas consultados pela agência de notícias Bloomberg.

"Sempre houve uma diferença entre o que está acontecendo na economia real e mercados financeiros", disse Stiglitz, professor da Universidade de Columbia, que estará em Davos. "O que está acontecendo na China é uma desaceleração realmente", disse ele, "mas não é uma desaceleração catastrófica".

Exageros no mercado

Para Adam Posen, presidente do Peterson Institute for International Economics, a situação é semelhante à crise de poupanças e empréstimos dos EUA na década de 1980, que feriu, mas não paralisou a economia. Os cidadãos chineses ainda têm poupança, o país tem pouca dívida denominada em moeda estrangeira, e os bancos não estão exibindo sinais de instabilidade, disse ele.

"Eu realmente acho que as pessoas estão exagerando", disse Posen, ex-membro do Banco da Inglaterra, à Bloomberg.

Mesmo sob condições mais adversas na China, as repercussões serão limitadas a cerca de 0,2 ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) nos EUA, Europa e Japão, disseram economistas do Goldman Sachs em um relatório este mês.

Alguns argumentam que a dor valerá a pena com a China mudando para uma expansão mais sustentável com foco no consumo e nos serviços, em vez de investimento e manufatura.

Outros visitantes de Davos são menos otimistas. O economista-chefe do Citigroup, Willem Buiter, sugeriu que há um risco de 55% de que a China empurre a economia global para uma recessão nos próximos dois anos.

E o ministro das finanças do Reino Unido, George Osborne, citou um enfraquecimento da China entre os "coquetéis perigosos" de ameaças que pesam sobre sua economia.

Haverá muitas oportunidades para discutir quem tem razão. Os participantes chineses incluem o presidente do Alibaba, Jack Ma, o presidente da Baidu, Ya-Qin Zhang e Jiang Jianqing, presidente do Industrial and Commercial Bank of China.

O bilionário dos fundos de hedge, Ray Dalio, da Bridgewater Associates, vai se juntar a Jiang e Lagarde em um painel que vai discutir para onde vai a economia, organizado pela Bloomberg.

"A China e as crescentes tensões entre Irã e Arábia Saudita vão dominar as conversas de corredor", disse Nariman Behravesh, economista-chefe da IHS. "Mercados odeiam incerteza. A incerteza sobre a China é extremamente alta agora".