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Robôs poderão fazer taxas de juros caírem ainda mais no futuro

Simon Kennedy

25/01/2016 13h01

(Bloomberg) -- Se houver uma ascensão dos robôs, as taxas de juros cairão.

Essa é a hipótese dos delegados da reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, em um momento em que as revoluções da automação e da inteligência artificial estão reformulando o funcionamento das economias.

O argumento é o seguinte: à medida que as máquinas se tornam mais avançadas, muitos trabalhadores perderão seus empregos e outros verão seus salários caírem. As novas tecnologias também aumentarão as chances de ocorra um salto de produtividade como o dos anos 1990. Essas forças se combinarão e conterão os preços em toda a economia mundial, o que significa que a era da inflação lenta que agora desafia os banqueiros centrais pode ser apenas um sinal do que está por vir.

"O progresso tecnológico limitará a forma pela qual a inflação pode ressurgir", disse Axel Weber, presidente do conselho do UBS Group e ex-presidente do banco central da Alemanha, em Davos.

O temor é que a chamada quarta revolução industrial prejudique uma fatia crescente da mão de obra, gerando desemprego e colocando pressão sobre os salários e, portanto, sobre o consumo, especialmente dos funcionários com baixa qualificação.

Distúrbio político

O fórum calcula que o nível maior de automação resultará em mais de 5 milhões de empregos perdidos até 2020 em 15 economias desenvolvidas e emergentes. Essa perspectiva já está inquietando os eleitores em todo o mundo, causando distúrbios políticos e gerando apoio para populistas como Marine Le Pen e Donald Trump.

"O primeiro efeito são os salários mais baixos para as pessoas que são substituídas", disse Adam Posen, ex-estrategista do Banco da Inglaterra que atualmente administra o Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington. "Isso deverá se ajustar ao longo do tempo, mas o impacto inicial é deflacionário".

Como a mão de obra restante se tornaria mais eficiente, os otimistas apostam em uma expansão da produtividade semelhante a quando a era da internet ajudou a impulsionar uma taxa de crescimento de 3,5 por cento da produtividade nos EUA entre 1996 e 2003, permitindo que os banqueiros centrais mantivessem os juros mais baixos do que em uma situação contrária. O Bank of America calcula que a adoção de robôs e de inteligência artificial poderia aumentar a produtividade em 30% em muitos setores.

Destruindo máquinas

"O resultado é um ambiente de baixa inflação", disse Laura Tyson, ex-conselheira econômica do presidente Bill Clinton, atualmente professora da Faculdade de Negócios Haas da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Outro problema para os otimistas é o impacto sobre a política. Assim como quando os ludistas destruíram as máquinas na primeira revolução industrial, uma outra reformulação mundial poderia provocar discórdia entre eleitores e políticos reacionários.

"Esta será uma mudança radical", disse Johan Dennelind, CEO da TeliaSonera, uma operadora de telecomunicações sueca. "Poderia ser realmente doloroso. Acho que temos que admitir que será doloroso e usar o senso comum para nos prepararmos para isso".

O prêmio Nobel Edmund Phelps disse que os governos podem ter que reagir a isso redistribuindo o imposto de renda em direção àqueles que sofrem com os lucros desfrutados por aqueles que utilizam os novos avanços.

Os banqueiros centrais já estão se preparando para o desafio. Em novembro, Andrew Haldane, economista-chefe do Banco da Inglaterra, estimou que a automação poderia custar 15 milhões de empregos britânicos.

Repensando a política

"Se a substituibilidade entre a mão de obra e o capital é mais elevada que no passado, o poder de barganha da mão de obra e a fatia da renda poderiam ser proporcionalmente mais baixos", disse ele. "O resultado é um caminho substancialmente mais baixo para a inflação".

Um ambiente assim é outro motivo pelo qual os bancos centrais terão que repensar como entregar estabilidade de preço após descumprirem repetidas vezes suas metas de inflação desde a crise financeira, disse Paul Sheard, economista-chefe global da Standard Poor's.

"É um motivo para dar um passo para trás e ter um brainstorm", disse ele em Davos.