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Processadores de soja parados voltam à ativa na Argentina

Pablo Gonzalez

05/02/2016 11h45

(Bloomberg) - Durante grande parte da última década, os processadores de soja na Argentina, como Bunge e Cargill, não obtinham uma quantidade suficiente da safra para processar, porque os produtores e o governo se enfrentavam por causa das políticas agrícolas.

Agora, o presidente recém-eleito Mauricio Macri está diminuindo os impostos e acabando com a proibição de importação, e os processadores estão prontos para ampliar o domínio argentino nas exportações de ração animal e óleo à base de soja. O impulso não poderia vir em um momento melhor - os produtores do terceiro maior país produtor de soja estão ávidos para vender US$ 10 bilhões em safras que foram acumuladas durante o confronto com o governo anterior. E as exportações devem se beneficiar da desvalorização da moeda local frente ao dólar, realizada pelo governo.

"As novas políticas estão mandando produtores e exportadores para um mundo perfeito", disse Ramiro Farias, economista da Bolsa de Grãos de Córdoba, na Argentina, que prevê que os processadores de soja do país - que paralisaram mais de um terço de sua capacidade no ano passado - vão levar a produção a altas históricas nos próximos dois anos.

A Argentina há muito busca ser um país processador de soja, e não apenas produtor, a fim de aproveitar a crescente demanda mundial por produtos à base de soja, que têm preços mais altos que os da matéria-prima. Com esse objetivo, o setor gastou US$ 3 bilhões para ampliar as instalações, que depois foram subutilizadas quando a ex-presidente Cristina Kirchner aumentou os impostos sobre a exportação e barrou as importações para obrigar os produtores locais a venderem.

Janeiro recorde

Até meados de dezembro, quando Macri tomou posse, as remessas estrangeiras de oleaginosas e grãos para 2015 totalizavam US$ 17,6 bilhões, o valor mais baixo para esse período desde 2009, de acordo com a CIARA-CEC, um consórcio de exportadores argentinos com sede em Buenos Aires. Em janeiro, as vendas de exportação mais do que triplicaram em relação ao mesmo mês do ano anterior e chegaram ao recorde de US$ 2,7 bilhões.

Embora o país tenha processado o recorde de 38,6 milhões de toneladas no ano passado, o valor é muito inferior à capacidade total, de 62 milhões de toneladas, mostram dados do setor. A maioria das instalações que ficaram ociosas foram fábricas ampliadas pela Bunge, pela Cargill e pela Louis Dreyfus Commodities BV, que respondem por 26 milhões de toneladas. Porta-vozes dessas empresas não quiseram fazer comentários para esta matéria.

Com as políticas do novo governo em vigor, o processamento poderia aumentar 8 por cento, para 42 milhões de toneladas, neste ano e crescer mais 10 por cento em 2017, de acordo com Farias, economista da Bolsa de Grãos de Córdoba.

Benefícios a longo prazo

Em meados de dezembro, Macri reduziu os impostos sobre a soja e desvalorizou o peso em 30 por cento em um único dia, a maior queda da moeda desde 2002. No dia 18 de janeiro, ele disse que os processadores poderiam importar soja sem impostos se os produtos fossem vendidos no exterior. O ministro de Agroindústria, Ricardo Buryaile, estima que essa mudança levará à importação de pelo menos 2 milhões de toneladas só do Paraguai.

"No curto prazo, os produtores locais vão reclamar da concorrência, mas a longo prazo, quando o setor obtiver lucros melhores e puder pagar mais aos produtores locais, eles serão beneficiados", disse Carlos Blosom, gerente-geral da Cresud, uma produtora de soja com sede em Buenos Aires que possui mais de 230.000 hectares de terra na Argentina, no Brasil, na Bolívia e no Paraguai.