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China perde força, mas Nicarágua não desiste de construir canal

Michael McDonald

08/02/2016 09h46

(Bloomberg) -- Manuel Coronel Kautz não é um homem fácil de dissuadir.

Ótimo. Porque como chefe da Autoridade do Canal da Nicarágua ele viu o projeto de US$ 50 bilhões, financiado pelos chineses, sofrer revés atrás de revés.

O último deles: 12 meses de atrasos na construção de um porto-chave justamente no momento em que a turbulência financeira na China aumenta a especulação de que o financiamento não chegará.

"O ceticismo em relação ao canal diminuirá à medida que as coisas começarem a acontecer", disse Kautz. "Vemos tudo de uma forma tão macro que eu não me preocupo com o mercado de ações. Ele muda todos os dias".

Três anos depois de o presidente Daniel Ortega entregar o projeto de 270 quilômetros de extensão à HKND Group, empresa com sede em Hong Kong, os estudos topográficos e arqueológicos estão se aproximando do fim, disse Kautz.

As autoridades chinesas que viajaram à Nicarágua no mês passado visitaram a cidade de Brito, na costa do Pacífico, onde a construção no porto agora está programada para começar em dezembro, com um atraso de cerca de um ano.

A viabilidade do projeto, que ficaria a 480 quilômetros do centenário Canal do Panamá, tem sido questionada por especialistas em navegação e engenheiros desde que Ortega anunciou seus planos pela primeira vez e o Congresso do país da América Central entregou o contrato sem aceitar propostas concorrentes.

Expansão no Panamá

Os defensores dizem que o caminho aquaviário atrairá navios maiores que não passarão pelo novo conjunto de eclusas do Canal do Panamá -- um projeto de US$ 5,3 bilhões que está aproximadamente dois anos atrasado -- e dará um impulso significativo à economia de US$ 12 bilhões da Nicarágua.

Em 2015, as autoridades da Nicarágua disseram que os recursos para o seu canal poderiam ser garantidos por meio de uma venda de ações em Hong Kong.

Kautz diz agora que a maior parte dos recursos provavelmente viria do capital privado. Ele disse que o projeto poderia ser dividido em diversas fases, para que somas menores de dinheiro possam ser captadas para cada porção.

Os protestos contra o canal continuaram em janeiro e os manifestantes pressionam pela anulação da concessão de 50 anos à HKND. Uma pesquisa da Cid Gallup publicada no jornal Confidencial mostrou que 34% dos participantes consideravam que o canal era "pura propaganda".

Os moradores céticos dizem que o canal é um plano de Ortega para conseguir apoio antes da eleição presidencial de novembro. Um outro estudo publicado pelo governo apontou que 81% dos nicaraguenses apoiam o canal.

"Acho que o canal só existe na cabeça de Ortega", disse o estudante universitário Yader Sequeira, de 24 anos, que mora na cidade de El Tule, perto da rota do canal. "Não está acontecendo absolutamente nada".

Kautz não pensa assim.

"As coisas estão sendo preparadas para serem iniciadas no fim deste ano, a começar pelo porto na costa do Pacífico", disse ele. "As coisas estão avançando".