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Com perspectiva turva, Yellen equilibrará confiança e cautela

Jana Randow e Christopher Condon

08/02/2016 09h26

(Bloomberg) -- Janet Yellen está se preparando para andar na corda bamba.

Quando a presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) discursar no Congresso, nesta semana, em Washington, ela terá que alcançar o equilíbrio entre parecer confiante em relação à economia doméstica e reconhecer os riscos maiores do exterior.

Duas semanas após os membros da cúpula do banco central terem sinalizado que as taxas de juros poderão subir mais lentamente do que o que foi previsto anteriormente, economistas e investidores tentarão medir a disposição de Yellen para atrasar esse ciclo de aperto na reunião de março.

Com a turbulência no mercado financeiro gerando incerteza em relação às perspectivas, os preços da energia segurando a inflação e o Banco Central Europeu preparando um aumento de estímulo que poderá valorizar o dólar, a probabilidade implícita no mercado de um aumento nos juros no mês que vem caiu para 10%, contra mais de 50% no início do ano.

Formuladores de política do Fed, como o vice-presidente Stanley Fischer, disseram que ainda é muito cedo para decidir o próximo passo.

"Não acho que deveríamos esperar que Yellen jogue a toalha em relação a um aumento em março", disse Thomas Costerg, economista sênior para os EUA do Standard Chartered Bank em Nova York.

"Ela poderá enfatizar os fatores positivos da economia dos EUA, particularmente o mercado de trabalho, ainda forte. Olhando para o futuro, ela poderá soar mais cautelosa e provavelmente ressaltará os pontos negativos, em grande parte do exterior, dizendo que estão observando o panorama global de perto".

Segundo o programado, Yellen se apresentará ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes às 10h da quarta-feira e falará ao Comitê Bancário do Senado no dia seguinte. Ela terá evidências para apoiar a visão do Fed de que o mercado de trabalho dos EUA continua sólido e que os salários mostram sinais de recuperação.

Postura amenizada

Os membros do Fed amenizaram sua postura desde que o banco central elevou as taxas de juros pela primeira vez em quase uma década, em dezembro, e divulgou projeções mostrando que a mediana das estimativas das autoridades do Fed previa um aperto de 1 ponto percentual nos juros em 2016, provavelmente dividido em quatro aumentos de 0,25 por cento.

O crescimento econômico dos EUA desacelerou no quarto trimestre porque as empresas reduziram investimentos, aumentando o temor de que o enfraquecimento do comércio global prejudicará ou até mesmo interromperá um dos períodos mais longos de expansão contínua desde a Segunda Guerra Mundial.

Os preços do petróleo estão próximos do nível mais baixo desde 2003.

No cerne dessa preocupação com a economia mundial está a China. No país asiático, o banco central enfrenta o crescimento mais lento em 25 anos, a depreciação do yuan para o valor mais baixo em cinco anos e uma forte queda acionária que abalou os mercados internacionais, apertando as condições financeiras dos EUA à Europa.

O Standard Poor's 500 Index está em baixa de 8% neste ano, enquanto o Stoxx Europe 600 Index perdeu 11%.

Membros da cúpula do Fed como Fischer, a diretora Lael Brainard e o presidente do Fed de Nova York, William Dudley, alertaram que o impacto da turbulência do mercado financeiro sobre a economia dos EUA ainda não está claro e demandam um monitoramento cuidadoso.

A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, disse continuar esperando que a economia dos EUA justifique aumentos graduais nas taxas de juros.

Para Lindsey Piegza, economista-chefe da Stifel Nicolaus, Yellen usará seus discursos no Congresso para defender o aumento de dezembro e manter as opções abertas para março.

"Acho que ela manterá sua postura", disse Piegza. "Ela dirá que eles ficarão de olho nos mercados acionários e nos acontecimentos internacionais, mas que ela espera que a economia continue ganhando força".

O Comitê Federal de Mercado Aberto anunciará sua próxima decisão para a política monetária em 16 de março, seis dias após o BCE.