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Argentina volta a mercado de crédito após 15 anos

Carolina Millan

19/04/2016 11h47

(Bloomberg) -- Após 15 anos fora dos mercados internacionais de crédito, a Argentina está retornando de forma estrondosa.

O país ampliou o tamanho da venda planejada de títulos para US$ 16,5 bilhões nesta terça-feira (19) e reduziu sua meta de taxa de juros para as notas de 10 anos que está emitindo após promover a operação entre os investidores, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto. Uma venda desse tamanho seria um recorde para um único dia para um país em desenvolvimento e marca o fim de um capítulo de isolamento internacional que acompanha a Argentina desde o calote de US$ 95 bilhões, em 2001.

Uma venda bem-sucedida seria a maior vitória até agora do presidente Mauricio Macri, que assumiu em dezembro prometendo acabar com políticas econômicas imprevisíveis e chegar a um acordo com os holdouts que processaram o país após o calote. Cerca de US$ 10 bilhões do dinheiro da venda de títulos irá para o pagamento de hedge funds e outros investidores, liderados pelo bilionário Paul Singer, que chegaram a um acordo com a Argentina em fevereiro.

"Eu me lembro do calote de 2001, por isso ver a Argentina retornar aos mercados de capitais será impressionante", disse Ray Zucaro, diretor de investimento da RVX Asset Management em Miami, que cobre a Argentina há 18 anos. "Para os antigos, certamente dá um calor no coração ver o retorno de um país tão grande ao mercado".

O isolamento dos mercados internacionais custou à economia argentina US$ 120 bilhões e fez o país perder 2 milhões de novos empregos que, em outra situação, poderiam ter sido criados, disse o ministro da Fazenda e Finanças, Alfonso Prat-Gay, na semana passada, ao anunciar os títulos a investidores, em Washington. O governo enviou equipes "azul celeste" e "branca" -- as cores nacionais da Argentina -- para se reunirem com investidores em Londres, Nova York, Los Angeles, Boston e Washington para sua estreia no mercado e recebeu uma demanda "incrível", disse Prat-Gay.

"O mundo está pronto para ter a Argentina de volta", disse Prat-Gay na semana passada em Washington. "Um filho pródigo voltou".

A Argentina está vendendo US$ 2,75 bilhões em títulos de três anos com yield de 6,25 por cento, US$ 4,5 bilhões em títulos de cinco anos a 6,875 por cento, US$ 6,5 bilhões em títulos de 10 anos a 7,5 por cento e US$ 2,75 bilhões em títulos de 30 anos a 8 por cento, segundo a pessoa, que pediu anonimato porque a informação é privada. A venda inicialmente havia sido calculada em apenas US$ 10 bilhões, com as notas de 10 anos pagando um yield de até 8 por cento.

Sem a capacidade de recorrer aos mercados internacionais de dívidas, a ex-presidente Cristina Kirchner secou as reservas do banco central para pagar dívidas em moeda forte e imprimiu dinheiro para financiar os gastos do governo, gerando uma inflação que os analistas estimaram em cerca de 25 por cento. Com a desvalorização do peso, a fuga de capital aumentou -- levando a anos de controles cambiais estritos que impediram o crescimento econômico e o investimento estrangeiro.

Classificação das dívidas

Desde que assumiu, Macri eliminou controles de capitais, cancelou a maioria dos impostos sobre exportações, cortou subsídios do governo e reformulou a agência nacional de estatísticas. As agências de classificação melhoraram suas opiniões sobre a dívida do país e derrubaram os yields dos títulos existentes, que atingiram mínimos recorde.

"Aparentemente eles estão fazendo tudo certo", disse Rafael Elias, chefe de estratégia de mercados emergentes na Cantor Fitzgerald. "A solução da situação com os holdouts era algo que as pessoas esperavam de Macri, mas talvez não tão logo após ele assumir, nem de forma tão bem-sucedida".

Na última vez que a Argentina vendeu títulos, em maio de 2001, a economia estava em dificuldades depois que um sistema de indexação cambial, que havia ajudado a conter a inflação, minou o crescimento. O país vendeu títulos com um cupom de 15,5 por cento a apenas 78,55 centavos de dólar. Sete meses depois, o país deu calote de US$ 95 bilhões e abandonou sua taxa de câmbio fixa.