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Análise: Pessimistas não entenderam boom do aço na China

David Fickling

06/05/2016 14h58

(Bloomberg) -- Há uma prova de que o aumento dos preços dos materiais de construção chineses é impulsionado pela demanda fundamental: as pessoas estão pagando prêmio para obter as commodities agora em vez de esperar.

Isso seria uma anomalia se o aumento recente fosse puramente uma bolha especulativa. Os traders podem ser loucos, mas não são burros. Comprar aço agora na esperança de vendê-lo com lucro depois é uma estratégia extremamente arriscada quando os contratos futuros são precificados com desconto.

O chamado backwardation -- quando os contratos futuros perto de vencer custam mais que os de longo prazo -- geralmente é visto como um sinal de demanda genuína: os consumidores pagam um prêmio pela pronta entrega porque suas necessidades são reais e imediatas.

Isso seria coerente com as evidências de que a grande expansão de crédito da China no primeiro trimestre provocou a recuperação do consumo de materiais.

No caso do rebar, usado no concreto de construção, a curva de futuros com backwardation acentuou-se drasticamente nos últimos meses com a alta dos preços. No início de fevereiro, o rebar para entrega nesse mês custava cerca de 3,5 por cento menos que para entrega em abril. Agora, há um prêmio de 9 por cento para receber a entrega em maio em vez de julho.

Essa reversão contrasta nitidamente com outras commodities que viram um forte aumento no interesse especulativo, mas não contam com os motores de demanda evidentes que estão por trás dos aumentos do aço.

Observe os ovos, por exemplo. Contratos representando quase 1,2 milhão de toneladas de ovos mudaram de mãos na bolsa de commodities de Dalian no dia 20 de abril. Contudo, o aumento das negociações não foi igualado por uma elevação dos preços dos contratos de curto prazo: os preços dos ovos ainda estão em contango, o que significa que você paga mais para entregá-los mais tarde do que mais cedo.

A demanda por materiais da China provavelmente esteja sendo inflada por uma bolha de crédito em meio à desaceleração da economia. Seria corajoso anunciar um piso para a queda das commodities agora, disse Sam Walsh, CEO da Rio Tinto, a segunda maior produtora de minério de ferro do mundo, a repórteres, nesta semana. Embora a China tenha aumentado a produção de aço a um nível recorde em abril, segundo a Sanford C. Bernstein, o país ainda consome muito mais metal do que economias comparáveis.

Além disso, os especuladores não abandonam completamente um mercado quando ele entra em backwardation. Na verdade, o sinal de demanda real muitas vezes encoraja os especuladores a abrir posições na expectativa de que os contratos mais longos acabem subindo e igualando os preços dos contratos de curto prazo.

Contudo, com o preço do minério de ferro importado da China já em alta de 38 por cento neste ano, até mesmo o Goldman Sachs reverteu sua postura pessimista. O banco de investimento elevou sua projeção anual para os preços do minério de ferro em 19 por cento e aumentou sua estimativa para o trimestre atual em 47 por cento.

A China não precisa do tanto de metal que está utilizando, mas quando Pequim decide estimular a economia impulsionando o setor da construção, ele avança como um rolo compressor.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.