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Brasil pós-Dilma torna título de dívida mais atrativo que ação

Paula Sambo, André Soliani e Filipe Pacheco

13/05/2016 12h51

(Bloomberg) -- Antes do início do processo de impeachment de Dilma Rousseff, apostar no mercado de ações do Brasil era mais lucrativo do que comprar títulos soberanos. Após a suspensão temporária dela do cargo, na quinta-feira, a situação pode ser diferente.

Os títulos soberanos denominados em reais darão retorno de 12% na moeda local no próximo ano, desempenho ligeiramente superior ao do Ibovespa, segundo dados de prêmio de risco compilados pela Bloomberg. Até esta altura do ano, o Ibovespa subiu 23%, superando o retorno de 22% das dívidas soberanas em moeda local.

A recessão mais aguda em um século diminuirá as perspectivas de lucros das empresas brasileiras, mas os títulos podem ter mais espaço para subir se o presidente interino, Michel Temer, procurar recuperar as finanças do governo e debelar a inflação, disse Pablo Jaque Sahr, gerente de investimento da AGF Security, que possui US$ 3 bilhões em ativos sob gestão. Na quinta-feira, Temer nomeou Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-executivo de Wall Street, para liderar sua equipe econômica, medida que ajudou a conter a desvalorização do real. Dos 51 países monitorados pela Bloomberg, o Brasil é o único no qual os títulos deverão ter desempenho melhor que o das ações nos próximos 12 meses.

"Quando fazemos uma análise minuciosa de risco-retorno, com certeza nos parece muito mais interessante entrar em renda fixa local de Brasil do que renda variável", disse Sahr. "E não pensamos que isso vai mudar no curto prazo".

O fundo de renda fixa do Brasil da AGF Security, de US$ 104,6 milhões, subiu 32% em 2016, maior ganho entre 879 pares monitorados pela Bloomberg.

Na quinta-feira, o Senado votou pela suspensão de Dilma, que é acusada de maquiar os resultados do orçamento. Agora afastada, ela precisa esperar pelo julgamento no Senado, processo que pode terminar em setembro.

Dilma prometeu usar todos os instrumentos legais em sua defesa, reiterando que não cometeu crimes e que o processo de impeachment equivale a um golpe e é uma ameaça à democracia.

"O crédito se manterá melhor que as ações", disse Ilya Feygin, estrategista da WallachBeth Capital, de Nova York. "A probabilidade real de calote é bastante baixa. Por outro lado, um período de crescimento fraco, lucro ruim e instabilidade política é altamente provável, o que não favorece as ações".