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Crédito na Europa nunca foi tão chato --ou tão interessante

Tracy Alloway

27/07/2016 15h23

(Bloomberg) -- O mundo dos títulos de dívida corporativa está chato e os investidores não saem dele.

De acordo com relatório de analistas do HSBC Holdings Plc, nunca foi tão alta na Europa a parcela de dívidas corporativas com grau de investimento e nota BBB (logo acima do limiar que separa esses papéis do grau especulativo e de alto rendimento).

O argumento deles é que juros ultrabaixos e a postura recentemente mais conservadora das agências de classificação de risco transformaram o mercado em uma amálgama homogênea, pronta para a diferenciação por investidores criteriosos.

"Em um ambiente de taxas baixas, onde muitas empresas de nota BBB conseguem emitir por menos de 1 por cento em euros, há pouco incentivo para ter nota A ou maior", escreveram os analistas liderados por James Stuttard, responsável no HSBC por estratégia de crédito na Europa. Por sua vez, também vem crescendo a parcela de títulos com nota 'BB' --o mais elevado grau especulativo.

Embora sejam poucos os incentivos para as empresas diminuírem o endividamento e obter notas melhores em um momento em que o custo baixo de captação não é grande vantagem, as agências de classificação de risco também ajudaram a deixar o mundo de crédito com muitos tons de BBB.

Acusadas de conceder imerecidas notas AAA antes da crise financeira de 2008, as agências adotaram critérios mais rígidos. Em vez de maior variação das notas de crédito, o resultado foi o encolhimento dramático da oferta de dívida de classificação AAA e o mundo do crédito agora se concentra em torno do limiar BBB/BB.

"O panorama de notas de risco em 2016, nove anos após o início da crise financeira, é completamente diferente da era pré-crise", escreveram os analistas do HSBC.

"Não existem mais estruturas de crédito estruturado com alavancagem de 80 vezes, instrumentos hipotecários de segunda linha e países pequenos com razão dívida-PIB próxima de [mais de] 100 por cento e com nota AAA. Isso ocorria em 2006. Nem mesmo o Tesouro dos EUA tem nota AAA pelas três principais agências."

A falta de variedade entre os créditos representa oportunidade e desafio no mercado. Investidores que compram dívida emitida por empresas com balanços patrimoniais relativamente sólidos precisam estar alertas para os "anjos caídos " --aquelas companhias que têm a classificação rebaixada para junk.

Da mesma forma, os investidores podem encontrar uma "estrela em ascensão" --empresas que foram equivocadamente ou preventivamente classificadas como junk e estão prontas para uma nota melhor.

"A convergência das notas de grau de investimento para a área BBB se deve em grande parte às métricas conservadoras e à deterioração do subjacente", escreveram os analistas.

"De todo modo, a parcela de BBBs com grau de investimento na Europa nunca foi tão alta. Com a maior congregação dos créditos na área BBB/BB, aumentou o potencial para maior atividade com anjos caídos ou estrelas em ascensão."