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BCs de países emergentes perderam controle sobre taxas de juros, diz estudo

Sid Verma

08/08/2016 12h52

(Bloomberg) -- Os bancos centrais de países emergentes estão de mãos atadas. Os rendimentos de longo prazo desses mercados são reféns do banco central norte-americano, o Fed (Federal Reserve), e das políticas monetárias de outras economias avançadas.

Este foi o quadro exposto por um novo estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS), mostrando como a política monetária doméstica em uma série de mercados emergentes ficou efetivamente impotente devido à globalização financeira.

"Bancos centrais em economias pequenas têm apenas capacidade muito limitada de influenciar as taxa de juros de longo prazo em suas próprias moedas", escreveram Peter Hördahl, Jhuvesh Sobrun e Philip Turner, economistas do BIS, no estudo publicado na semana passada.

"A influência direta de mudanças em suas políticas em relação às do Federal Reserve é pequena."

Correlação com os EUA

Usando um modelo exclusivo que calcula a taxa de juros real de longo prazo para o mundo, determinada principalmente pelos EUA, os economistas ressaltam a correlação crescente entre os rendimentos dos títulos dos mercados emergentes e dos EUA.

Os economistas então destacam o desafio enfrentado pelos emergentes de ajustar suas taxas de juros de longo prazo para influenciar as condições monetárias.

"Em economias avançadas e também emergentes, as correlações de curto prazo com os rendimentos de longo prazo dos EUA aumentaram substancialmente ao longo da última década", escreveram.

Na média do período desde 2005 até hoje, uma elevação de 100 pontos-base (1 ponto percentual) no rendimento do título do Tesouro americano com prazo de 10 anos é associada a uma elevação de 70 a 80 pontos-base nos rendimentos de papéis em outros mercados de renda fixa, esfriando os efeitos de mudanças nas taxas de curto prazo."

12 emergentes

O estudo faz a modelagem das taxas de juros de longo prazo em seis economias avançadas e 12 emergentes (Brasil, Chile, Colômbia, Indonésia, Coreia do Sul, Malásia, México, Filipinas, Polônia, África do Sul, Tailândia e Turquia).

O modelo leva em conta as Treasuries (títulos do tesouro norte-americano) de dez anos, a taxa básica de juros local, uma referência para a taxa básica de juros dos EUA e a taxa de três meses no mercado de renda fixa de curtíssimo prazo.

O BIS calcula que uma elevação de 100 pontos-base no rendimento da Treasury é associado a altas de 79 pontos-base no rendimento dos papéis de economias avançadas e de 69 pontos-base nos rendimentos de papéis de mercados emergentes.

Esta última correlação é considerada "impressionante" pelos profissionais do BIS, uma vez que a abertura dos mercados locais de títulos em países emergentes é um fenômeno relativamente recente.

Talvez contra a lógica, o BIS também estima que uma elevação de 100 pontos-base na taxa básica de juros dos EUA só acrescenta diretamente seis ou sete pontos-base aos juros de longo prazo no exterior.

Ou seja, as taxas de juros de curto prazo dos EUA têm impacto relativamente modesto sobre os rendimentos de títulos emergentes e especula-se que a sensibilidade entre os dois é maior quando o ciclo de aperto monetário decidido pelo Fed surpreende os mercados globais, diferentemente da alta de juros do fim do ano passado, que foi amplamente sinalizada.