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Análise: O Banco Central vai barrar a queda do dólar?

Narong Sangnak/Efe
Imagem: Narong Sangnak/Efe

Josué Leonel e Daniela Milanese

10/08/2016 14h43

(Bloomberg) -- O avanço do impeachment de Dilma no Senado e o cenário externo ampliaram a queda do dólar, que chegou a se aproximar de R$ 3,10 na manhã desta quarta-feira (10).

O fortalecimento do real, que acumula alta de 26% este ano, de longe o melhor desempenho entre as principais moedas de países emergentes, reacende no mercado a discussão sobre se o BC (Banco Central) vai ou não ampliar as intervenções para frear a valorização.

Mesmo quem espera intervenções maiores, contudo, tem dúvidas sobre se a medida conseguiria conter o ímpeto da moeda brasileira.

O risco de uma queda excessiva do real comprometer a recuperação da balança comercial (saldo entre exportações e importações) leva alguns analistas a considerarem a possibilidade de o BC ampliar o ritmo das intervenções no câmbio, hoje limitadas a leilões diários de 10 mil contratos de swaps cambiais reversos.

"BC teria argumentos para fazer isso dado que a apreciação do real nos últimos 30 dias continua bem mais forte que a das outras moedas na região", diz Gustavo Rangel, economista-chefe para a América Latina do ING.

Intensificação

Intervenções maiores, porém, podem não ser suficientes para reverter a queda do dólar. É possível que a moeda se aproxime de R$ 3 e que o BC aumente a dose, mas mesmo que isso ocorra "não será nada de drástico ou espalhafatoso", diz Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Crédit Agricole.

"Até agora, o consenso é de que dólar se estabilize em torno de R$ 3,20, R$ 3,30 ao final do ano, mas se esses movimentos continuarem pode-se ver o câmbio em torno de R$ 3 ou abaixo disso nos próximos dias. Vai depender do exterior e também da evolução doméstica".

O BC provavelmente não vai alterar sua política de intervenção no câmbio, ainda que o dólar possa chegar ou até mesmo romper o patamar de R$ 3, diz Flávio Serrano, economista-sênior do banco Haitong.

Intervenções mudariam apenas no caso de o comportamento de o real "ser incompatível com o resto do mundo e de maneira gritante". Mesmo assim, a alteração seria pontual, diz o economista.

Real em alta

O real continuará subindo no curto prazo por conta do cenário internacional favorável aos emergentes, pela expectativa de ingresso de recursos externos e o otimismo com a possibilidade de aprovação das medidas fiscais propostas pelo governo, diz Carlos Pedroso, economista sênior do MUFG - Mitsubishi UFJ Financial Group.

Para ele, a queda do dólar amplia a "janela de oportunidade" para que o BC amplie a colocação de swaps reversos.

As atuações do BC com swaps cambiais são voltadas para afetar apenas a volatilidade e não o nível da taxa de câmbio, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator. Para ele, o dólar deve cair mais um pouco, rumo aos R$ 3.

Em outros países, o corte dos juros eventualmente é usado para conter o fortalecimento excessivo das moedas. No Brasil, o juro alto exerce forte apelo ao investidor externo em um ambiente global de juros em torno de zero e com a perspectiva de normalização da economia brasileira.

O instrumento, contudo, não deve ser usado no Brasil no curto prazo devido à inflação, que continua pressionada, como mostrou o IPCA divulgado nesta quarta-feira. Por enquanto, segundo Rangel, do ING, a única opção possível para o BC seria uma intervenção no câmbio.

Procurado pela agência de notícias Bloomberg, o Banco Central disse que não comenta avaliações de analistas de mercado.