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Etiópia e Quênia disputam mercado de flores na África Oriental

William Davison e Samuel Gebre

25/08/2016 14h39

(Bloomberg) -- Em um gigantesco depósito perto do Lago Ziway, na região central da Etiópia, centenas de mulheres de avental trabalham em bancadas amarelas, sob bandeiras dos times de futebol holandeses PSV Eindhoven e Feyenoord, separando ramalhetes de rosas multicoloridas.

Dois dias depois esses ramos, transportados em tubos de papelão perfurado da fazenda de flores AQ Roses, que pertence a holandeses, estarão à venda em floriculturas de toda a Europa.

Há dez anos, o diretor administrativo da AQ, Frank Ammerlaan, apostou no incipiente setor de flores da Etiópia em vez de investir no Quênia, país vizinho onde o cultivo de flores remonta a 1969. A fazenda avaliada em US$ 10 milhões é uma prova de que essa aposta compensou. Com a ajuda de isenções tributárias, empréstimos de bancos estatais e intolerância à corrupção, surgiu um setor avaliado em US$ 200 milhões anuais que está arrebatando uma fatia do mercado do Quênia, que vende o equivalente a US$ 500 milhões em flores por ano e fornece mais de um terço das flores vendidas na Europa anualmente.

"Aqui é muito melhor que no Quênia", disse Ammerlaan, 34, na plantação, que fica a cerca de 170 quilômetros ao sul da capital, Adis Abeba. "O que realmente nos importa é a segurança e [a intolerância] à corrupção, coisas que são muito melhores aqui que no Quênia".

O surgimento da Etiópia, que se tornou o segundo maior exportador de flores da África em apenas 10 anos, é a mais recente prova de que o país está tomando o lugar, tradicionalmente ocupado pelo Quênia, de potência econômica da região. O país suplantou o Quênia como quarta maior economia da África subsaariana no ano passado e cresceu cinco vezes desde 2005, para US$ 61,6 bilhões, segundo dados do Fundo Monetário Internacional. Isso atraiu investidores estrangeiros, que semearam US$ 1,2 bilhão na Etiópia em 2014, em comparação com os US$ 944 milhões que foram para o Quênia, mostram dados estatísticos do Banco Mundial.

A Etiópia está aproveitando a insatisfação dos exportadores quenianos, que reclamam dos impostos excessivos cobrados pelas autoridades do governo nacional e dos condados e também dos frequentes pedidos de propina feitos pelos funcionários estatais, disse Dipesh Devraj, presidente do conselho da Associação de Exportadores de Produtos Frescos do Quênia. Os produtores quenianos afirmam que os agentes fiscais pedem propinas para agilizar a restituição do imposto de valor agregado. Os produtores também reclamam do alto custo de mão de obra, terrenos e fertilizantes. No ano passado, cinco empresas que estavam no Quênia transferiram as operações para a Etiópia, de acordo com o Conselho de Floricultura do Quênia.

"Eles estão nos explorando. A maioria das fazendas de flores ficou no vermelho em 2015", disse Jeff Kneppers, holandês proprietário da Maridadi Flowers. Ele está no Quênia há mais de 20 anos. "Outros produtores estão pensando em se mudar para a Etiópia". Ele disse que por enquanto vai ficar, porque o país tem um clima mais favorável, trabalhadores mais qualificados e permite a propriedade privada de terras, que está proibida na Etiópia.