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Divórcio falso vira tática de compra de imóveis caros na China

Bloomberg News

24/10/2016 14h40

(Bloomberg) -- Neste ano, o Sr. e a Sra. Cai, um casal de Xangai, decidiram terminar seu casamento. Não por diferenças irreconciliáveis; na verdade, por causa de uma bolha no mercado imobiliário. O casal, que administra uma loja de roupa, queria comprar um apartamento por 3,6 milhões de yuans (US$ 532.583), que se somaria aos três imóveis que eles já têm.

Mas o governo local começou, entre outras medidas de combate à bolha, a limitar as aquisições de quem já é proprietário. Portanto, em fevereiro, o casal se divorciou.

"Por que nos preocuparíamos com o divórcio? Estamos casados por muito tempo", disse Cai, o marido, que pediu que o nome completo do casal não fosse utilizado para evitar possíveis problemas jurídicos. "Se não comprarmos esse apartamento, perderemos a chance de ficar ricos".

O aumento dos preços dos imóveis na China neste ano vem inspirando medidas desesperadas como essa. Compradores agitados tentam agir antes que mais restrições regulatórias sejam impostas. Embora os últimos números, publicados na sexta-feira, mostrem um esfriamento em algumas das cidades mais ativas, como Pequim e Xangai, o custo das casas novas registrou a maior alta em sete anos em setembro.

Nos primeiros três trimestres de 2016, segundo dados compilados pela agência de notícias Bloomberg, a média de preços de casas novas aumentou 30 por cento nas cidades grandes, como Xangai, e 13 por cento em cidades menores.

O boom remonta a 2014, quando o Banco Popular da China começou a flexibilizar os requisitos para empréstimos e reduzir as taxas de juros. A Comissão Regulatória de Valores da China também suspendeu restrições sobre a venda de títulos e ações por incorporadoras, o que ajudou-as a captar fundos para novos projetos.

Pouco depois, os imóveis estavam sendo vendidos a valores cada vez maiores nos leilões de terrenos do governo. Por volta de junho de 2016, as 196 incorporadoras de capital aberto da China tinham contraído dívidas de 3 trilhões de yuans, frente a 1,3 trilhão três anos antes.

Em muitas cidades, o preço por metro quadrado de terrenos sem construção tinha subido mais que o de apartamentos construídos em um lote vizinho comparável, situação descrita pelos chineses como "a farinha está mais cara que o pão".

Tarefa difícil

As autoridades vêm tentando acabar com o excesso de oferta sem prejudicar a economia, tarefa difícil porque a febre imobiliária se distribui de forma desigual. Muitos municípios de menor porte dependem da venda de imóveis para preencher lacunas em seu orçamento, o que os incentiva a aumentar a oferta de terrenos para construção.

Assim, nas cidades maiores a oferta diminuiu e os preços aumentaram, mas nas cidades de menor porte sobram apartamentos e faltam compradores.

Em 2017, o Partido Comunista organizará seu congresso quinquenal, e com um crescimento do PIB de 6,7% no ano até agora, o ritmo mais lento desde 1990, um colapso imobiliário seria especialmente indesejado.

"Tudo que eu sei é que comprar imóveis não será um prejuízo", disse Cai, que menciona duas décadas de alta dos preços como prova. "De vários milhares de yuans por metro quadrado a mais de 100 mil yuans. Esse preço caiu alguma vez? Não."