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Desistentes da sociedade são desafio para economia do Japão

Maiko Takahashi

28/11/2016 12h43

(Bloomberg) -- Nagisa Hirai era uma criança ativa que adorava jogar futebol com os meninos. Mas essa alegria inicial desapareceu no primeiro dia da escola primária, quando ela ficou assustada por não conseguir encontrar sua sala de aula.

Com o tempo, ela se tornou um "hikikomori", um termo japonês usado para descrever mais de meio milhão de jovens no país que ficam em casa e evitam interagir com pessoas de fora da família.

Ela sofria ataques de ansiedade por qualquer situação que não fosse familiar --até mesmo esquecer coisas para o colégio lhe provocava pânico. Ela se tornou cada vez mais incomodada em ir para a escola, o que levou seus pais rigorosos a obrigá-la a ir.

Agora com 30 anos de idade, ela diz que está se recuperando, mas ainda há dias em que ela não consegue sair da cama e ir para seu trabalho de meio período em uma universidade.

Embora o problema do hikikomori não seja uma novidade, o primeiro-ministro Shinzo Abe agora planeja mobilizá-los como parte de uma campanha mais abrangente para dar apoio à força de trabalho, que está envelhecendo.

Ele prometeu impedir que a população se reduza dos atuais 127 milhões a menos de 100 milhões e quer que todos os membros da sociedade contribuam ativamente para a terceira maior economia do mundo.

Pressões sociais

Não existe uma causa única para o fenômeno. O hikikomori pode surgir de fatores como provocações na escola ou no trabalho ou pressão dos pais ou de outros familiares para ser bem-sucedido em testes de admissão ou entrevistas de emprego.

Cerca de 541 mil pessoas entre 15 e 39 anos --ou 1,6% da população nessa faixa etária-- foram consideradas hikikomori em um relatório do Escritório do Gabinete publicado em setembro. O governo define-as como pessoas que ficaram em casa e evitaram interagir com quem não é integrante de sua família durante pelo menos seis meses.

À medida que a sociedade envelhece, os hikikomori também se tornam mais velhos. Cerca de 53% deles na prefeitura ocidental de Shimane tinham 40 anos de idade ou mais, e esse número é de 44% em Yamagata, região Norte do Japão. Isso gera dúvidas sobre como os desistentes mais velhos vão se sustentar quando seus pais, que estão envelhecendo, morrerem.

Impacto econômico

Políticas adequadas, como assistência financeira e aconselhamento psicológico, poderiam ajudar a transformar os hikikomori em membros da força de trabalho, afirma Eriko Ito, consultora do Nomura Research Institute em Tóquio. Isso aumentaria a produção econômica geral e também ajudaria a reduzir o gasto em bem-estar social.

"Deveríamos mudar nossa concepção em relação a sustentá-los", diz Ito. "É um investimento, não um custo."

O plano do governo é sustentar os hikikomori e outros jovens com dificuldades tornando-os mais "independentes". O governo montou centros de aconselhamento psicológico em todo o país e conta com assistentes que visitam aqueles que relutam em sair de casa.

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