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Jovens da Espanha preferem alugar em vez de comprar imóvel

Maria Tadeo e Sharon Smyth

29/11/2016 10h34

(Bloomberg) -- O caso de amor da Espanha com a casa própria está começando a desaparecer.

Após testemunhar o colapso do mercado imobiliário do país no auge da crise financeira da Europa, uma quantidade maior de jovens espanhóis estão dando as costas para o sonho de seus pais de ter uma casa própria. A tendência incipiente está levando a Merlin Properties Socimi a apostar que conseguirá ultrapassar o Goldman Sachs e a Blackstone Group no mercado de aluguéis. O maior fundo de investimentos imobiliários da Espanha pretende quase que dobrar a quantidade de unidades que tem para alugar até o fim do ano, informou o presidente Ismael Clemente em uma entrevista.

"Os jovens espanhóis de hoje não têm a cultura da posse -- eles já não veem alugar como algo ruim", disse ele.

A crise imobiliária e o posterior resgate dos bancos estimularam muitos jovens a questionar a noção preconcebida de que a casa de um espanhol não é apenas um lar, mas também um refúgio para o dinheiro economizado. A crise fez com que o desemprego disparasse, acabando com as certezas econômicas de um emprego e renda seguros e com o incessante aumento de preço dos imóveis que era a base da paixão do país pela casa própria.

"O conceito de ter uma casa na Espanha era quase religioso, mas isso mudou para toda uma geração de jovens que viu as pessoas perderem suas casas, a queda dos preços e a perda do acesso ao crédito", disse Fernando Encinar, um dos fundadores e diretor de pesquisa da Idealista, que opera em uma plataforma on-line para comprar e alugar casas. "Isso fez com que alugar se tornasse uma opção mais atraente, especialmente nas grandes cidades, como Madri e Barcelona."

Oportunidade

Para a Merlin, o aumento de popularidade dos aluguéis representa uma oportunidade de negócios.

"Até agora, não existia um locador profissional na Espanha e a qualidade do setor de aluguéis era muito ruim", disse Clemente na entrevista.

Como parte da combinação dos negócios da Merlin com a Metrovacesa, anunciada em junho, as duas vão fusionar também suas carteiras de apartamentos para alugar. A Merlin e os antigos acionistas da Metrovacesa combinarão os imóveis e acrescentarão mais apartamentos a fim de criar um locador com 10.000 unidades alugadas, ofuscando as 6.000 unidades que a Blackstone tem em Madri e os quase 5.000 lares que pertencem ao Goldman Sachs.

Clemente, que deseja listar ou vender sua unidade residencial -- a Testa Residencial -- dentro de três anos, vê a transição ao aluguel como parte de uma mudança geracional mais abrangente que também está ocorrendo em sua própria casa.

"Meus filhos não têm a cultura da posse", disse ele. "Eles alugam seus aparelhos celulares da Telefónica, escutam música no Spotify e simplesmente já não veem o aluguel como algo ruim."