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Peregrinação por caixas eletrônicos vira rotina na Venezuela

Bloomberg News

02/12/2016 15h11

(Bloomberg) -- Domingris Montano fazia os cálculos enquanto aguardava na fila para entrar em uma agência bancária em Caracas. Ela precisava fazer supermercado. Um saco de arroz custa 3.500 bolívares, mais da metade do limite diário de saque, e o caixa eletrônico poderia estar vazio quando chegasse a vez dela. Será que ela conseguiria passar por outras máquinas antes de anoitecer?

"Tive de passar por seis caixas eletrônicos só para conseguir 6.000 bolívares", contou a cabelereira de 36 anos, tentando ver se a fila para entrar no Banesco Banco Universal estava andando. Não estava.

Fila não é novidade na Venezuela, onde a economia está em frangalhos e a inflação nas alturas. Somente em novembro, a moeda desabou 67 por cento em relação ao dólar no mercado negro e 6.000 bolívares valem apenas US$ 1,30. Para piorar o cotidiano em um país onde falta quase tudo menos atividades criminosas, veio o limite ínfimo de saques nos caixas eletrônicos.

Horas para sacar US$ 6

A alguns quarteirões de onde Domingris Montano aguardava, a fila para acessar uma máquina do Banco Del Caribe era de aproximadamente 15 minutos. Nada mal para uma agência que permite saque diário de 24.500 bolívares, o suficiente para pagar por um almoço simples para quatro pessoas. Demora seis minutos para o dinheiro sair da máquina. São 3.500 bolívares por vez e o felizardo sai com uma pilha de notas de oito centímetros equivalente a US$ 5,32 no mercado negro - o único que importa para a maioria das pessoas.

O governo pratica duas taxas de câmbio oficiais, mas são ignoradas. No câmbio negro, a cédula de maior denominação, de 100 bolívares, é trocada por dois centavos de dólar. Uma nota de 2 bolívares vale exatamente nada.

Os mais pobres raramente têm conta bancária e a maioria dos táxis e vendedores de rua só aceita dinheiro. São eles que oferecem raridades como ovos, farinha e café. Cartões de crédito são aceitos em alguns estabelecimentos, mas nem sempre as transações são aprovadas. É o caixa eletrônico a saída. Mesmo quando a máquina fica vazia, as filas se formam: as pessoas já aguardam os carros-fortes que farão a reposição.