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Bancos escutam telefonemas para descobrir os melhores investidores

Joe Easton

08/12/2016 13h30

(Bloomberg) -- Não é o que você diz que importa, é como você diz. Especialmente se você quiser ser contratado para negociar instrumentos financeiros.

A Amplify Trading, empresa sediada em Londres que oferece serviços de treinamento a bancos e gestoras de ativos como HSBC Holdings e Invesco, está introduzindo tecnologia de análise de voz para identificar comportamentos associados a uma carreira de sucesso como trader.

A forma como eles interagem e o que dizem continua rendendo notícia. Autoridades antitruste da União Europeia multaram três bancos em 485,5 milhões de euros (US$ 524 milhões) na quarta-feira, citando também a "linguagem vulgar" supostamente usada nas conversas entre traders.

O programa da Amplify dura oito semanas. Nele, os trainees são divididos em dois grupos: traders que vendem ativos e gestores de fundos. Os telefonemas entre os dois grupos são analisados para avaliar características individuais.

Além de métricas simples, como duração da chamada e comissão ganha, o software de análise verbal considera o tom de voz para identificar, por exemplo, se um trader fica agitado ou frustrado com frequência.

Os bancos que têm acesso aos dados colhidos depois podem escolher traders com características específicas.

Intuição

Com a popularização da negociação eletrônica, o número de profissionais que falam com clientes pelo telefone está diminuindo. No entanto, a Amplify entende que a migração da negociação por voz para a negociação eletrônica é uma oportunidade para os talentos se sobressaírem.

"À medida que os processos de negociação de menor quantia se tornam automatizados, o valor do trader de vendas que consegue manter relacionamentos com clientes para conseguir grandes transações em bloco aumenta na mesma proporção", disse Will de Lucy, cofundador e diretor-gerente da Amplify.

Esse foco nas características pessoais desses profissionais se intensificou após um estudo divulgado pela Universidade de Cambridge neste ano afirmar que "sinais corporais - as intuições na tradição financeira" ainda têm impacto significativo sobre as taxas de sucesso. Os traders capazes de detectar seus próprios batimentos cardíacos se mostraram mais lucrativos no pregão.

Os métodos da Amplify se distanciam das ferramentas normalmente usadas pelo setor financeiro, como testes numéricos e de lógica verbal, para avaliar candidatos.

"Não existe um só tipo de personalidade que faz um trader ter mais sucesso", disse Steven Goldstein, dono da Alpha R Cubed, que gera perfis comportamentais desses profissionais por meio de testes psicométricos.

Goldstein, que também dá aulas de finanças comportamentais na London School of Economics, afirma que os gestores costumam escolher pessoas que se encaixam em sua estratégia de risco específica. "É comum ver traders antes bem sucedidos penando quando mudam de firma. Isso acontece simplesmente porque seus perfis comportamentais não se encaixam à nova firma", afirmou o professor, que já foi trader do Credit Suisse Group e do Commerzbank.

Goldstein reconhece que as características pessoais podem identificar o mercado ao qual o trader se adaptará melhor. Pessoas pouco emotivas e com pensamento mais lógico geralmente têm sucesso na gestão de carteiras ou administrando carteiras de derivativos de longo prazo. Já pessoas avessas a risco e que se empolgam facilmente são mais adequadas a mercados à vista, como o de câmbio, segundo ele.