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Casas com valor arquitetônico são mais difíceis de vender

James Tarmy

08/12/2016 12h06

(Bloomberg) -- No fim dos anos 1960, o arquiteto Luis Barragán recebeu o pedido de criar um complexo hípico na Cidade do México, com estábulos, uma casa principal com quatro quartos, paddocks de corrida e uma piscina rasa onde os cavalos pudessem se refrescar.

Foi no último trecho da celebrada carreira de Barragán (posteriormente ele ganhou o cobiçado Prêmio Pritzker), e a propriedade, chamada Cuadra San Cristóbal, era adjacente ao exclusivo Clube Hípico Francês.

O clube já não existe, mas a casa foi rigorosamente preservada pela família que a encomendou. Há quatro anos, ela foi colocada à venda (seu preço atual é de US$ 13 milhões), e nesse momento a família foi obrigada a considerar um dilema enfrentado por proprietários de casas com valor arquitetônico no mundo inteiro: uma estirpe arquitetônica com importância histórica pode ser um fardo, não apenas um argumento de venda.

Os vizinhos mudam; as casas continuam iguais

Trinta anos depois da construção da Cuadra San Cristóbal, o clube hípico deixou de existir, e o bairro, que antes era de classe alta, caiu para segmentos inferiores do mercado. "Muitos dos lotes foram fracionados", disse Federica Zanco, diretora da Barragán Foundation, com sede na Suíça. "Há muitas casas de pequeno porte que não são particularmente elegantes nem particularmente bem conservadas."

Os proprietários da Cuadra San Cristóbal se opuseram ao desenvolvimento de estruturas que diminuiriam de algum modo o valor da propriedade e fizeram o máximo possível para continuarem fiéis ao que Zanco considerou "uma das obras-primas" da vida de Barragán. "É claro que eles estão muito cientes da importância dessa construção", disse ela. "E eles lutaram arduamente para impedir qualquer construção ofensiva na vizinhança, mas, é claro, até quando eles podem continuar?", perguntou ela retoricamente. "Eles querem vender a casa, e em certo momento eles terão que abandoná-la."

Eles ainda não fizeram isso. "Recebemos algumas ofertas, mas eles não querem vender [a casa] por menos do que ela vale", disse Jerónimo Quiroz, o corretor que representa o imóvel. "Algumas incorporadoras adorariam comprar para demolir ou para transformar a casa em um clube ou algo parecido". Os vendedores não aceitam essas opções e estão emperrados tentando vender uma casa elegante em um bairro que sem dúvida não é elegante.

Possíveis compradores terão que fazer um cálculo financeiro desanimador: eles pagariam uma enorme quantia (em qualquer cidade) por uma casa sem os serviços comumente associados a esse tipo de preço. "As pessoas verdadeiramente ricas na Cidade do México tendem a se concentrar em determinadas regiões", disse Zanco. "Existem preocupações com a segurança e coisas desse estilo."

Isso significa que um comprador disposto a preservar a casa provavelmente não vai querer morar nela. O comprador poderia ser uma instituição ou um "conjunto de investidores", sugeriu Zanco. "Vale a pena, para uma classe rica de mexicanos que se preocupam com seu futuro cultural."

"Na verdade, nunca é fácil vender uma obra-prima arquitetônica se ela não tiver a localização certa", disse Zanco. "No fim das contas, isso nem sempre é um valor agregado."