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Mercado passa a considerar inflação dentro do limite e juros a 13%

Josué Leonel e Patricia Lara

09/12/2016 13h13

(Bloomberg) -- Duas hipóteses descartadas pelo mercado até semanas atrás agora entraram no terreno das possibilidades, ainda que não sejam ainda as apostas mais prováveis: ter uma inflação dentro da meta neste ano e o Banco Central acelerar o corte da taxa de juros em janeiro de 0,25 ponto percentual para 0,75 pp, e não 0,50 pp, como ainda indica a aposta da maioria dos investidores.

Uma inflação abaixo do teto da meta este ano seria surpresa para o mercado e o próprio BC. Na pesquisa Focus com economistas dos bancos desta semana, a projeção para o IPCA de 2016 ainda era de 6,69%. Cerca de um mês atrás, a projeção estava em 6,88%. Mesmo o BC, na ata divulgada esta semana, ainda previa inflação de 6,6%, pouco acima, portanto, do teto de 6,50%.

O mercado de juros acompanha a melhora de expectativas inflacionárias. Se até a semana passada as apostas se dividiam entre redução de 0,25 pp e 0,50 pp da Selic no Copom de janeiro, o corte de meio ponto virou piso após o IPCA de novembro divulgado nesta sexta-feira, que ficou abaixo de todas as estimativas apuradas pela Bloomberg. O IPCA fechou o mês passado em 6,99% em 12 meses e espera-se novo recuo em dezembro.

Se a inflação de dezembro ficar abaixo de 0,50%, o IPCA deste ano "não estoura o teto da meta", diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. A economista diz que a atividade, que vem surpreendendo negativamente, está tendo efeito maior em forçar os preços para baixo.

O fato de o BC ter começado o corte de juros muito gradual, com redução de 0,25 pp, não significa que o ritmo será mantido. "Se tiver condições para acelerar, vai acelerar o corte."

O recuo da inflação aumenta o conforto do BC para ampliar o corte da Selic para 0,50 pp em janeiro, diz Alberto Ramos, economista-sênior do Goldman Sachs, em relatório. E, se a inflação seguir diminuindo e a atividade continuar deprimida, o mercado possivelmente passará a projetar um corte entre 0,50 pp e 0,75 pp, diz o economista. Com isso, a Selic cairia dos atuais 13,75% para entre 13,25% e 13%.

A maioria dos analistas ainda mantém postura cautelosa, lembrando que, além da continuidade da queda da inflação, um ritmo maior de corte do juro ainda depende das reformas fiscais. "Ainda não", diz o economista Pedro Tuesta, da empresa de análise financeira 4cast, sobre a possibilidade de o BC cortar a Selic em 0,75 pp em janeiro.

Ele espera que o Copom acelere o ritmo, mas para 0,50 pp. Tuesta adverte que os alimentos podem reverter o bom desempenho que tem ajudado a reduzir a inflação. Além disso, a reforma da Previdência só deve ser concluída em meados de 2017.

Até a próxima decisão do Copom, em 11 de janeiro, a provável aprovação da PEC do teto de gastos no Senado já terá ocorrido, enquanto a reforma da Previdência poderá ter dado seu primeiro passo se passar na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara.

Nos EUA, o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) deverá ter feito o esperado aumento dos juros de dezembro e o mercado conhecerá melhor os planos de Donald Trump, embora a posse só deva ocorrer em fevereiro.

O BC também contará com mais dados econômicos para avaliar o cenário, com muitos indicadores de preços e antecedentes de atividade de dezembro já conhecidos. "Chance é muito maior de corte de 0,50 pp da Selic em janeiro. Mas falta muito tempo para Copom", diz Srour, da ARX. "Até lá, se continuarmos tendo surpresas, como no IPCA-15, dados do quarto trimestre negativos, há chance de -0,75 pp."