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Opinião: Passado voraz de CEO da Nestlé impediria corte do açúcar

Andrea Felsted

27/12/2016 17h16

O risco está de volta, então quem precisa de chocolate? A Nestlé precisa acompanhar as mudanças e os investidores estão muito otimistas de que o novo CEO da empresa, Ulf Mark Schneider, será capaz de produzir uma rápida mudança de marcha.

Ele certamente tem a experiência certa para a tarefa, mas as táticas de que a Nestlé necessita não estão em seu DNA. Os investidores precisam avançar com cautela.

A gigante suíça de 150 anos, assim como as rivais Unilever, Danone e Reckitt Benckiser Group, enfrenta o nítido fim da Grande Rotação -- o movimento global para os investimentos de rendimentos mais elevados que fazem com que a estabilidade das grandes empresas de produtos de consumo perca a preferência. Além disso, todas elas enfrentam uma demanda mais lenta pelo fato de os mercados emergentes estarem perdendo força, pela queda dos preços dos alimentos e pela mudança dos gostos dos consumidores.

O problema é particularmente grave para a Nestlé, considerando que 2016 pode ser o quarto ano consecutivo em que a empresa não atinge sua meta de crescimento orgânico de 5 por cento a 6 por cento.

Schneider, que assume em 1o de janeiro, foi uma escolha surpresa para liderar a economia -- ele é o primeiro profissional de fora a ocupar o cargo desde 1922. Ele certamente ganhou um histórico forte durante seus 13 anos à frente da empresa de saúde Fresenius, de rápido crescimento. Lá, ele conseguiu um retorno anual médio de 23 por cento, mais do que o dobro do da Nestlé e do Stoxx 600 Index.

Mas a Nestlé é um bicho bastante diferente. Para colocá-la em forma, Schneider precisará passar a faca em alguns fatores de pior desempenho.

Um problema óbvio é que a empresa ainda gera 83 por cento de sua receita com alimentos e bebidas, um negócio de crescimento mais baixo. Na Unilever, o número é de apenas 43 por cento -- a companhia foi mais rápida na diversificação desse setor e na construção de seu negócio de cuidados domésticos e pessoais.

Para começar, Schneider deveria vender o negócio de alimentos preparados dos EUA. A divisão, que inclui as refeições congeladas Stouffer, a pizza DiGiorno e os sanduíches congelados Hot Pockets tem enfrentado problemas porque os consumidores estão optando por alternativas mais saudáveis. A divisão pode valer cerca de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões, segundo Martin Deboo, analista da Jefferies Group.

A companhia também deveria deixar o ramo mundial de guloseimas, onde claramente nem lidera nem é a segunda colocada, em parte porque não conseguiu inovar em chocolates premium. A divisão pode valer cerca de US$ 20 bilhões, segundo Deboo.

Com uma dívida líquida de pouco menos de uma vez o Ebitda, a Nestlé não precisa realmente do dinheiro. A questão é concentrar a companhia em áreas de crescimento mais rápido.

Ainda assim, essas jogadas deixariam Schneider com um montante formidável para investir no que a Nestlé enxerga como seu futuro motor de crescimento: ciências da saúde, o que inclui nutrição médica e remédios para a pele.

Considerando o histórico da empresa no ramo de saúde, a esperança é que ele possa acelerar essa divisão, que respondeu por 16,7 por cento das vendas em 2015.

A empresa precisa de ajuda -- ela deveria estar impulsionando a diversificação do ramo de alimentos, mas o crescimento perdeu força nos últimos dois anos. Schneider precisa fazer essa divisão avançar na direção certa.

No entanto, não é certeza que Schneider vá mostrar os dentes. Ele é viciado em aquisições. Na Fresenius sua estratégia era adquirir e expandir e ele realizou mais de uma dúzia de aquisições nos ramos de hospitais, cuidados médicos, investimento em medicamentos e nutrição médica, mas também fez algumas vendas. O desmembramento de algumas divisões importantes da Nestlé pode forçá-lo a mudar sua natureza.

Existem também dúvidas sobre se ele terá carta branca para colocar de lado unidades mantidas há tempos. Paul Bulcke, o CEO que ele substituirá, continuará no tabuleiro como presidente do conselho.

Os investidores não parecem ter nenhuma dúvida no momento. A Nestlé é negociada com um pequeno prêmio em relação à Unilever com base no índice preço/lucro previsto. Isso parece otimista, considerando, em particular, que a Unilever só ganhou fãs com seus planos de elevar as margens.

Considerando o peso das expectativas nos ombros de Schneider, sem o sinal inicial de uma ampla reformulação, a Nestlé estará mais exposta do que suas rivais ao novo apetite pelo risco.