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Análise: Coroa da Pimco ajustada a um novo rei e uma nova era

Lisa Abramowicz

28/12/2016 11h22

(Bloomberg) -- A pompa do antigo rei da renda fixa não se adequa mais à circunstância.

Quem perdeu o trono foi Bill Gross, o gestor de recursos da Pimco famoso por suas aparições públicas, pelas cartas a investidores tecendo elogios a seu gato, pelas apostas ousadas no mercado e pelo desejo de provar que estava certo.

A loucura do rei Bill era aceita e até celebrada enquanto ele erguia a gestora de recursos com sede na Califórnia durante o período de 30 anos de otimismo no mercado de renda fixa nos EUA. Mas os tempos mudaram e ele perdeu seu posto na Pimco em 2014, em um quase golpe palaciano após uma longa batalha interna.

Seu sucessor como diretor de investimentos na Pimco é Dan Ivascyn, também um respeitado investidor durante seus quase 20 anos na firma. Mas as similaridades param por aqui.

Se ele é o novo rei da renda fixa, é um rei de outra era. Ivascyn é bastante diferente de Gross. Ele é mais discreto e raramente aparece na televisão. Seus comentários sobre o mercado são introspectivos. Ele busca ativamente informações que provem erradas as hipóteses com as quais trabalha.

Ivascyn é responsável pela estratégia em uma das maiores firmas de investimento do mundo durante um período traiçoeiro para os mercados de dívida e para a indústria de gestão de recursos em geral. Fundos de gestão de perfil ativo precisam entregar desempenho superior ao de seus pares ou correm o risco de fechar as portas. Os investidores não se impressionam com a pinta de rock star, eles só querem retorno.

Estão dispostos a pagar mais por um fundo que rotineiramente supere fundos e estratégias rivais, mas se retiram rapidamente e colocam o dinheiro em estratégias indexadas com comissões baixas se suas expectativas não forem atendidas.

Ivascyn tem experiência na entrega de retorno acima da média. O Pimco Income Fund, com US$ 68,1 bilhões, que ele administra junto com Alfred Murata, registrou desempenho superior ao de 98 por cento de seus rivais nos últimos três e cinco anos. A Morningstar nomeou Ivascyn e Murata os Gestores de Renda Fixa do Ano em 2013.

Conversei recentemente com Ivascyn sobre como a Pimco vai encarar o próximo ano com um pano de fundo tão difícil. "A mente humana tende a nos pregar peças", ele disse. "Há uma tendência a buscar pesquisas que sustentem uma opinião existente."

A melhor abordagem, segundo ele, é buscar ativamente opiniões e dados contrários e com credibilidade e considerar a possibilidade de seu entendimento estar errado.

Para 2017, a Pimco tem menos apostas macroeconômicas de alta convicção do que no passado e está ciente de que nunca foi tão caro executar transações. A firma provavelmente passará um bom tempo tentando entender as políticas do presidente eleito Donald Trump. A vitória dele desencadeou a maior onda de venda de títulos públicos dos EUA desde 2009.

Diante da imprevisibilidade, os fundos da Pimco têm aumentado a alocação em instrumentos de altíssima liquidez (cash) em algumas carteiras e estão se preparando para um ciclo de inadimplência em algum momento. Embora a Pimco não espere uma sequência iminente de insolvência, Ivascyn acha que uma recessão está a caminho e que é hora de começar os preparativos.

O mercado "passou do medo ao que parece ser uma boa dose de complacência", ele disse. Os investidores precisam ser "muito, muito cuidadosos em relação a depender de investimentos que só se baseiam em políticas de bancos centrais". Ele citou os títulos do governo italiano como exemplo.

Os investidores despejaram dinheiro em fundos de gestão passiva nos últimos anos e retiraram recursos de fundos de gestão ativa, mas a Pimco espera que o pêndulo volte a favorecer os seres humanos que escolhem títulos para aplicação. Isso porque tempos turbulentos costumam proporcionar mais oportunidades aos gestores capazes de identificá-las.

"Precisamos lutar para termos um desempenho particularmente bom em períodos particularmente difíceis para nossos clientes", ele disse.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.