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Laboratório e ex-soldado fazem parceria contra hepatite nos EUA

Doni Bloomfield

29/12/2016 15h46

(Bloomberg) -- Depois de passar seis dias sangrando em um hospital do Missouri, nos EUA, no ano passado, como consequência de uma injeção de metanfetamina, Heather Surface saiu no frio de janeiro, ainda viciada em drogas, sem-teto e sem saber que tinha uma infecção hepática perigosa.

Duas semanas depois, em um centro de reabilitação, ela conheceu Bruce Burkett, um veterano do Exército de barba rala que é assistente social e também defensor da saúde pública. Burkett é também uma bênção para os laboratórios porque procura pacientes que precisam de tratamentos caros e poderosos contra a infecção hepática viral hepatite C.

Burkett é especialista em conseguir testes e tratamentos para pacientes, e grande parte de seu trabalho é financiada por empresas como Gilead Sciences, AbbVie e Merck & Co., que venderam quase US$ 50 bilhões dos novos antivirais desde que eles começaram a chegar ao mercado em 2013. A dura concorrência baixou os preços e aumentou os descontos, e muitos pacientes com plano de saúde já foram tratados. Essa é umamá notícia para a líder do mercado, a Gilead, que precisa achar cada vez mais pacientes nas redes de serviços sociais que visam os usuários de drogas e os pobres. Muitos pacientes nem sabem que têm a infecção, que pode demorar anos para apresentar sintomas.

"Eles estão vendo uma diminuição no número de pacientes apesar de haver 1 a 2 milhões de pacientes lá fora", disse Michael Yee, analista da RBC Capital Markets. "Eles têm que sair e achar esses 1 a 2 milhões de pessoas."

Recursos limitados

A Gilead gastou US$141 milhões no ano passado anunciando seus medicamentos de hepatite C nos EUA, segundo a Kantar Media, uma empresa de monitoramento de anúncios. Ao mesmo tempo, o financiamento público para detectar novos pacientes é insuficiente. Os Centros para Controle e Prevenção de Doenças do país estimam que existam cerca de 3,9 milhões de pacientes de hepatite C nos EUA. O orçamento da agência para deter a propagação de todas as formas de hepatite viral - incluindo a hepatite C - foi de US$34 milhões neste ano. Em 2015, em um dia comum, a Gilead ganhou mais do que isso vendendo remédios contra a hepatite C.

Burkett, na época usuário de heroína, contraiu o vírus quando estava na Europa com o Exército. Hoje,curado, ele fez o teste com 3.356 pessoas no Missouri neste ano e detectou 286 infecções. Funcionários locais de saúde disseram que costumam encaminhar consultas sobre testes de hepatite C a ele.

Cerca de 70 por cento de seus fundos vêm de laboratórios e a Gilead montou uma rede nacional de funcionários que trabalham com os departamentos de saúde pública e ativistas como ele.

Título em inglês: Army Vet Battling Hepatitis Finds Unlikely Partner in Big Pharma

Para entrar em contato com o repórter: Doni Bloomfield em Boston, mbloomfiel12@bloomberg.net.

Para entrar em contato com os editores responsáveis: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net, Felipe Frisch

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