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Corte da produção da OPEP pode estar surtindo efeito

Luke Kawa

04/01/2017 15h36

(Bloomberg) -- Quando se trata de cortes na produção da OPEP "nossa tendência é trapacear", disse o ex-ministro de Petróleo da Arábia Saudita Ali al-Naimi, depois de o grupo fechar um acordo para reduzir a produção no fim do ano passado.

Mas o alcance dessa trapaça não será tão ruim desta vez, afirma Damien Courvalin, do Goldman Sachs Group Inc. O analista acredita que as nações dentro e fora da OPEP irão concretizar 84 por cento da redução acordada, citando fatores como o incentivo entre produtores com custos menores e "a rápida normalização dos estoques".

Tal passo efetivamente mudaria a forma da curva dos contratos futuros de petróleo, garantindo que produtores concorrentes de xisto tenham menos chances de bloquear a produção em 2018, já que contratos de maior duração se tornam mais baratos em comparação com os de curto prazo, o que ajudaria a reduzir o excedente global de petróleo. A dramática mudança na forma da curva de contratos futuros do Brent nas últimas cinco semanas pode ser um primeiro sinal de que a tática tem potencial para dar frutos.

Embora a curva estivesse em um estado de contango antes do acordo de novembro de 2016 ? ou seja, contratos de curto prazo estavam mais baratos do que os de longo prazo ?, parte da curva agora está inclinada para o estado oposto, de backwardation, sinalizando que um contrato com vencimento em dezembro de 2018 agora está sendo negociado a um preço mais baixo do que os contratos que expiram em setembro de 2017, por exemplo.

Esta dinâmica pode tornar o bloqueio da produção do ano que vem uma perspectiva menos atraente para os produtores de xisto, que operam com custos maiores, explica Courvalin, também acelerando o retorno do mercado ao equilíbrio e promovendo uma redução "significativa" dos estoques de petróleo acumulados anteriormente. Também existem benefícios adicionais para serem considerados por produtores que possam estar planejando a venda de uma participação em suas petrolíferas estatais, destaca o analista.

A "normalização dos estoques é essencial para os produtores de baixo custo", escreveu o analista em relatório enviado em 4 de janeiro aos clientes, já que "gera 'backwardation', eliminando ganhos de hedge de produtores de alto custo e ajudando produtores de baixo custo a aumentarem a participação de mercado", disse. Também "reduz a volatilidade dos preços do petróleo, o que aumenta o valor da dívida e das ações que estão emitindo".

Naturalmente, a rapidez da resposta das empresas de xisto americanas, que elevaram a produção em outubro para o maior nível desde abril de 2014, poderia distorcer as estimativas do analista.

Courvalin projeta que os preços do contrato tipo Brent podem atingir o pico de US$ 59 por barril em 2017 em meio a essas reduções de estoque, mas alerta que os investimentos em novos projetos irão acelerar com a estabilização das cotações entre US$ 55 e US$ 60 por barril, efetivamente tirando força da tendência de alta dos preços no curto prazo.

Assim, o analista espera melhores retornos com contratos futuros do que no mercado à vista, já que a estrutura atual da curva fornece oportunidades para uma posição positiva.