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Escassez de cédulas na Índia impede noivos de comprar alianças

Swansy Afonso e Ranjeetha Pakiam

17/01/2017 13h58

(Bloomberg) -- Uma escassez de cédulas imposta pelo próprio governo está levando caos às joalherias da Índia, um dos maiores consumidores de ouro do mundo. As vendas estão despencando.

Basta perguntar para Renita Ferreira. Embora a cerimônia de seu casamento esteja marcada há um ano para o dia 24 de fevereiro, ela e o noivo não compraram as alianças, mesmo depois de terem ido várias vezes às lojas em Panaji, capital do estado de Goa, região Oeste do país. A maioria das lojas não aceita cartão de crédito porque o setor joalheiro da Índia trabalha principalmente com dinheiro em espécie, algo que os consumidores têm muito menos hoje em dia.

Em novembro, o governo proibiu o que totaliza metade das cédulas em circulação, parte de um plano para coibir a corrupção e a evasão fiscal. A medida reduziu as compras de todo tipo de coisa, de carros a sabão, em um país onde 98% do consumo é pago em cédulas de rúpias. Embora uma moeda substituta tenha sido emitida, o distúrbio abalou ainda mais a demanda de ouro, que já vinha lenta por causa do aumento de preço no varejo.

"Todos os nossos planos foram por água abaixo depois da proibição das cédulas", disse Ferreira, 28, consultora de marketing. "O dinheiro vivo simplesmente não é uma opção no momento. Não podemos nos casar sem as alianças."

Procura por ouro

A demanda por ouro na Índia, que só é menor que a da China, provavelmente caiu para o patamar mais baixo em sete anos em 2016, de acordo com o Conselho Mundial de Ouro, que reduziu suas perspectivas duas vezes. O Conselho calculou o consumo de 650 a 750 toneladas, 24% menos que as 858,1 toneladas registradas em 2015. O declínio continuará em 2017, com base na desaceleração das importações, que respondem pela maior parte do que é comprado no país, afirmou o Kotak Mahindra Bank. As compras de ouro estrangeiro totalizarão entre 350 e 400 toneladas, em contraste com 575 toneladas no ano passado, segundo o banco.

Os indianos já vinham comprando menos ouro antes que o primeiro-ministro Narendra Modi promulgasse a mudança de política monetária mais abrangente do mundo em décadas. Os preços mais altos haviam mantido muitos clientes à distância, e a demanda rural caiu quando uma estação de chuvas fraca prejudicou a receita agrícola. Joalheiros também entraram em greve para protestar contra um imposto sobre o consumo de joias fabricadas localmente e a iniciativa do governo para aumentar a transparência no sistema financeiro.

Mercado paralelo

As condições pioraram ainda mais para o ouro quando o governo invalidou cédulas velhas de 500 e 1.000 rúpias (US$ 7 e US$ 15), algo semelhante ao governo dos EUA retirar de circulação todas as suas cédulas, exceto metade das notas de US$ 1. O objetivo era combater transações do mercado paralelo, que respondem por uma boa parte da economia de varejo da Índia. Milhões de pessoas fizeram filas em bancos para depositar as notas ou trocá-las por novas denominações, embora as restrições sobre a quantidade de dinheiro que elas podem extrair perdurem, até mesmo em caixas eletrônicos.

Os moradores das zonas rurais foram os mais afetados, porque praticamente só utilizam dinheiro vivo, tanto para comprar roupas e alimentos quanto para pagar um casamento. É provável que até 600 milhões de indianos não tenham uma conta bancária, de acordo com dados do banco central, e uma quantidade desproporcional dessas pessoas mora em pequenos vilarejos e ganha salários diários pagos em dinheiro. Essas comunidades, que dependem principalmente da agricultura, respondem por cerca de 60% das compras de joias da Índia.