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Estudo com megadados testa projeções do banco central norueguês

Sveinung Sleire

17/01/2017 13h32

(Bloomberg) -- Os bancos centrais podem estar certos em prestar menos atenção no mercado de títulos e em suas próprias projeções e mais nas reportagens dos jornais.

A conclusão, que pode soar como uma heresia, parte de um novo índice baseado em algoritmos que está sendo testado no banco central da Noruega, em Oslo. Os pesquisadores colocaram 26 anos de notícias (ou 459.745 artigos noticiosos) do jornal diário empresarial local Dagens Naringsliv em um modelo macroeconômico para criar um "novo índice coincidente de ciclos de negócios" para ajudar a autoridade monetária a medir o estado da economia.

O pesquisador sênior do banco, Leif-Anders Thorsrud, que iniciou o projeto quando cursou seu doutorado na Norwegian Business School, afirma que a "hipótese é muito simples: quanto mais se escreve sobre um assunto em um determinado momento, mais importante o assunto pode ser".

Ele já está trabalhando em um novo estudo (ainda não publicado) que mostra que é possível fazer transações com base na informação. Segundo Thorsrud, o trabalho faz parte de uma grande "revolução dos megadados".

Os megadados e os algoritmos viraram palavras-chave para hedge funds e pesquisadores que buscam uma vantagem analítica na leitura de tendências econômicas e políticas. No caso do banco central, a pesquisa poderia fornecer insumos preciosos para ajudá-lo a conduzir suas políticas durante uma era sem precedentes de estímulos monetários, em que a história pode não ser um bom guia para previsões.

No banco central da Noruega, os pesquisadores descobriram uma correlação próxima entre notícias e fatos econômicos. Seu índice também dá um panorama diário de como a economia está se saindo e o faz antes dos retardatários dados macroeconômicos.

Mas, ainda mais importante é o fato de que os megadados podem ser usados para prever para onde a economia está caminhando, superando as próprias projeções do banco central em cerca de 10 por cento, segundo Thorsrud. O índice mostrou também que previu melhor a recessão do início dos anos 2000 do que indicadores de mercado como ações ou títulos.

O banco central utiliza máquinas que analisam diariamente as reportagens do Dagens Naringsliv e dividem os assuntos atuais em tópicos e em palavras com conotações positivas ou negativas. Os dados, então, alimentam um modelo macroeconômico empregado pelo banco central, que lança um indicador do PIB.

Thorsrud afirma que os resultados do índice são definitivamente "relevantes para as políticas monetárias", mas que cabe aos responsáveis operacionais pela política monetária determinar se passarão a usar a informação. Outros bancos centrais, como o Banco da Inglaterra, estão analisando ferramentas similares, disse ele.

Embora a ferramenta ainda esteja em fase experimental, o banco separou mais recursos para dar continuidade à pesquisa, disse Thorsrud. "Com o tempo, ela pode ser útil na parte operativa do banco."