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Queda de produção do robusta dará mais sabor ao café: Gadfly

David Fickling

17/01/2017 15h27

(Bloomberg) -- Graças a um segundo ano de seca no Brasil, a sua bebida matutina poderia estar prestes a ficar mais saborosa.

Os preços dos grãos robusta, com alto teor de cafeína e sabor a cinzas, usados para dar força a misturas de café, estão em alta. Os futuros na Intercontinental Exchange avançaram 40 por cento durante 2016 por causa do clima adverso nas principais regiões produtoras do Brasil e do Vietnã.

No Espírito Santo não há chuvas significativas faz quase um mês, o que obrigou o governo a impor limites de irrigação, informou a Bloomberg News na segunda-feira. No Vietnã, chuvas fortes durante a temporada pico da colheita provocaram um grande volume de grãos mofados e diminuíram em 13 por cento a produção total em relação ao ano anterior.

Graças a geografias com diferenças sutis onde os grãos arábica, mais aromáticos, são cultivados, no ano passado os mesmos fatores produziram um ganho modesto de 8,2 por cento para essa variedade de maior qualidade. A Organização Internacional do Café projeta que a produção de robusta cairá em 3,7 milhões de sacas de 60 quilos em relação ao ano anterior durante a safra 2016-2017, ao passo que o arábica estásubindo, com projeções de que a produção atingirá o recorde de 93,5 milhões de sacas.

Essa combinação entre escassez e excesso fez com que o desconto tradicional do robusta em relação ao arábica diminuísse e, às vezes, desaparecesse completamente. Sacas de robusta no Espírito Santo superaram brevemente uma referência local do arábica em outubro e aconteceu a mesma coisa neste mês.

Apesar de os contratos de referência global na Intercontinental Exchange terem mostrado preços mais estáveis, o diferencial aqui também está se reduzindo, tendo caído para menos de US$ 1.000 por tonelada em dezembro, pela primeira vez em um ano.

Talvez seja preciso ter um paladar refinado para detectar a mudança em uma xícara de café frio, e muito mais em um café com leite defumado com caramelo.

Por um lado, as misturas de café expresso normalmente contêm de 80 por cento a 100 por cento de arábica - o Starbucks afirma que não compra outra coisa - e a pequena quantidade de robusta utilizada costuma estar lá por um bom motivo, como melhorar o creme em um café curto ou injetar uma boa dosede cafeína.

A maioria dos grãos robusta é utilizada em café instantâneo, que provavelmente não seja a primeira escolha dos conhecedores. Uma queda dos preços poderia fazer com que mais grãos arábica cheguem até a rede de abastecimento de café instantâneo, mas é pouco provável que a mudança no mercado gere uma grande mudança nos produtos exclusivos.

Também há outro fator. Há apenas 12 meses, mais de um terço do arábica nos depósitos da Intercontinental Exchange tinha menos de um ano. Agora, essa proporção caiu para menos de um quinto, e cerca de dois terços têm entre um e três anos.

Esses grãos velhos são precificados com desconto em relação a safras mais recentes para compensar sua perda gradual de sabor. À medida que os grãos envelhecem, eles começam a chegar às máquinas de café eaos vidros grandes de café instantâneo, e não às máquinas de torrefação artesanais.

O arábica talvez tenha sido o rei do mundo do café. Mas a idade, esse grande nivelador, está colocando-o em outro lugar.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.