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Cartier reduz glamour em meio à lenta recuperação relojoeira

Corinne Gretler

20/01/2017 13h58

(Bloomberg) -- A exposição da Cartier no salão de relógios de luxo de Genebra costuma estar cheia de esplêndidos modelos incrustados com pedras preciosas que custam US$ 100.000 ou mais. Neste ano, a maioria das vitrines da fabricante de joias de 170 anos no salão principal continha variações de um único modelo: o Panthère, que chegará às lojas em junho por apenas US$ 4.000.

A austera exibição da Cartier ilustra o estado de ânimo mais sóbrio das relojoarias suíças ao expor seus produtos na feira nesta semana. A Vacheron Constantin afirmou que não abrirá mais lojas em meio à eliminação de empregos e a Panerai está diminuindo em até 10 por cento sua rede de distribuição. A redução de gastos foi bem recebida pelos investidores, que deram um impulso às ações das fabricantes de relógios neste ano na esperança de que o pior já tenha passado.

"Tudo continua frágil", disse o CEO da Vacheron Constantin, Juan-Carlos Torres, em uma entrevista. "Estamos mais otimistas que no ano passado, mas não muito."

O setor relojoeiro suíço está saindo de sua mais longa queda desde a década de 1980, quando a concorrência de relógios de quartzo baratos quase tirou-o do mercado. As exportações de relógios do país despencaram 10 por cento nos primeiros 11 meses de 2016, e os números do ano serão divulgados na próxima semana.

Um ano depois de o setor ter sido perturbado pela ameaça do Apple Watch e dos relógios inteligentes em geral, essa preocupação foi substituída pelas consequências de um gasto anêmico na China, pelo fato de os turistas evitarem a França depois dos ataques terroristas e pelas incertezas econômicas nos EUA.

A Parmigiani Fleurier, cujos relógios custam em média em torno de 30.000 francos (US$ 30.000), afirmou que é arriscado demais aumentar a produção anual porque a empresa pretende evitar demissões em caso de retrocesso da recuperação. Normalmente, a companhia produz no máximo 4.000 relógios por ano.

A queda da demanda levou a Richemont, proprietária da Cartier e da Vacheron Constantin, a gastar mais de 200 milhões de euros (US$ 213 milhões) para comprar de volta relógios que não foram vendidos e continuavam nas prateleiras das lojas. A fabricante suíça de bens de luxo, que produz relógios com 12 marcas distintas, também eliminou cerca de 200 empregos na área de relojoaria.

"Marcas como a Cartier voltaram a se reduzir a um conceito de relógios simples, mas clássicos e profundamente elegantes, e é aí que estará a demanda daqui para a frente para o rico médio da China", disse Tom Russo, que administra US$ 10 bilhões para a Gardner Russo & Gardner, incluindo ações da Richemont no valor de US$ 800 milhões, em entrevista por telefone. "O consumidor é beneficiado, e o mercado e os investidores vão aderir."