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May pode repetir erro de Cameron com Merkel ao negociar Brexit

Svenja O'Donnell e Birgit Jennen

13/02/2017 15h31

(Bloomberg) -- Quando chegou a hora de seduzir Angela Merkel, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, colocou todas as fichas em um prestigioso convite para discursar no Parlamento, em caixas da série criminal britânica favorita dela e até em um convite para passarem seu aniversário de 49 anos juntos.

Peça central da União Europeia, a chanceler alemã era a chave para garantir as concessões sobre imigração de que Cameron necessitava para convencer os eleitores a manterem o Reino Unido no bloco. Mas ela recusou e os britânicos apoiaram o Brexit.

O erro fatal de Cameron foi presumir que Merkel podia ser seduzida a colocar a economia à frente da política. Agora, com a aproximação das negociações do Brexit, há sinais de que sua sucessora, Theresa May, está cometendo o mesmo equívoco, porque dois de seus assessores afirmam estar confiantes de que a chanceler pode ser convencida a ajudar o Reino Unido a conseguir o controle da imigração e ainda desfrutar de um comércio facilitado com o continente.

Mas isso pode ser ilusão. Os diplomatas britânicos em Berlim dizem que seus alertas, de que Merkel fala sério ao discursar publicamente sobre preferir dar preferência à estabilidade da UE em vez de preservar o comércio com o Reino Unido, têm sido ignorados até o momento. As decisões passadas de resgatar a Grécia e aplicar sanções à Rússia atestam a determinação política de Merkel.

Ilusão britânica

Os assessores de Cameron dizem desde o referendo de junho que confiavam excessivamente em Merkel, mas ela destruiu suas esperanças de que ajudaria em seu impulso de reformar a UE. Em vez disso, ela rejeitou um freio de emergência à imigração da UE e se recusou a unir forças com Cameron para tentar bloquear a nomeação de Jean-Claude Juncker como presidente da Comissão da UE, em 2014.

"Ainda existe uma certa ilusão em Londres a respeito do papel que a Alemanha e Merkel desempenharão nas negociações do Brexit", disse Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank. "O interesse político de Merkel em manter o grupo de 27 países da UE unido supera qualquer interesse que a indústria automotiva alemã ou qualquer outra tenha no mercado britânico. Os interesses políticos têm uma precedência absoluta."

Aliada natural?

Sob uma perspectiva comercial, a equipe de May vê Merkel como uma aliada natural. As tarifas atingiriam mais fortemente o país que é há tempos o motor econômico da Europa porque a Alemanha exporta quase duas vezes mais para o Reino Unido do que importa. A esperança é que se o Reino Unido ceder em sua postura linha-dura para a imigração, a Alemanha atuará com reciprocidade em relação ao acesso ao comércio.

Contudo, Merkel disse diversas vezes que o Reino Unido não poderá escolher as vantagens da adesão à UE sem aceitar as responsabilidades, o que significa que May não terá sucesso em sua tentativa de limitar os fluxos de trabalhadores e ao mesmo tempo estabelecer um comércio livre e abrangente com a Europa.

"Em essência, a Europa não se permitirá ser dividida, e nós vamos garantir isso", disse Merkel em janeiro.