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Noites sem dormir custam bilhões por ano à economia do Japão

Keiko Ujikane

16/02/2017 11h43

(Bloomberg) -- A privação de sono está causando mais dano ao Japão do que simplesmente o de deixar as pessoas mal-humoradas e prejudicar a saúde. Está também atrasando a terceira maior economia do mundo.

O problema tem piorado nos últimos anos. Quase metade dos trabalhadores em tempo integral dizem que não conseguem dormir o suficiente, citando como principal motivo o grande número de horas extras trabalhadas, segundo um estudo do governo sobre "karoshi" -- morte por excesso de trabalho.

Isto é, em grande parte, resultado de uma cultura de trabalho implacável que inclui uma quantidade enorme de horas extras, disse Junko Sakuyama, economista do Dai-Ichi Life Research Institute em Tóquio.

"Existe uma atmosfera no trabalho de que você tem que trabalhar muitas horas e não deve deixar o escritório no horário, o que gera falta de sono e dificuldades para que os trabalhadores mantenham a produtividade", disse Sakuyama.

Descanso mínimo

Poucas empresas estão adotando medidas, criando ou reforçando as exigências de "descanso mínimo", ou o número de horas de descanso que o trabalhador deve cumprir antes de voltar ao trabalho. O Sumitomo Mitsui Trust Bank estendeu seu mínimo de nove horas a todos os funcionários, incluindo contratados, em dezembro. Desde janeiro, a fabricante de fraldas Unicharm exige pelo menos oito horas fora e impede os trabalhadores de permanecerem depois das 22 horas.

Diferentemente da União Europeia, que exige 11 horas consecutivas de descanso a cada 24 horas, o Japão não possui leis para determinar os períodos mínimos de descanso. Apenas 2% de cerca de 1.700 empresas consultadas pelo governo têm períodos de descanso diário mínimos, segundo estudo divulgado em outubro.

O governo japonês separou cerca de 400 milhões de ienes (US$ 3,5 milhões) no próximo ano fiscal para um programa de incentivo para que pequenas e médias empresas adotem períodos de descanso mínimos. Será disponibilizado um subsídio de até 500 mil ienes por empresa para ajudar a pagar os custos, que incluem a revisão das regras de emprego, treinamento e atualização dos softwares de gerenciamento de informações de trabalho, segundo o Ministério do Trabalho.

US$ 138 bilhões por ano

Embora uma série de fatores carreguem a culpa pela baixa produtividade por trabalhador do Japão, a privação do sono está custando mais ao país do que aos seus pares do G-7, segundo um estudo sobre cinco países realizado pela RAND Europe, uma subsidiária do grupo de pesquisa RAND. A falta de sono custa à economia do Japão até US$ 138 bilhões por ano, ou cerca de 2,9% do produto interno bruto, apontou o estudo.

O simples aumento do sono noturno, de menos de seis horas para entre seis e sete horas, poderia adicionar US$ 75,7 bilhões à economia japonesa, informou o relatório.

"As longas jornadas de trabalho são um problema crucial no mercado de trabalho do Japão", disse Sakuyama. O Japão precisa aliviar o excesso de trabalho para reduzir o número de mortes em decorrência desse excesso e também para aumentar a produtividade em meio ao encolhimento populacional, disse ela.