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Kremlin pede menos bajulação a Trump na imprensa: Fontes

Irina Reznik, Stepan Kravchenko e Ilya Arkhipov

17/02/2017 15h07

(Bloomberg) -- O Kremlin ordenou que a imprensa estatal reduza a cobertura de apoio ao presidente dos EUA, Donald Trump, o que reflete a crescente preocupação entre as autoridades russas de que o novo governo dos EUA seja menos amigável do que se imaginava inicialmente, disseram três pessoas a par do assunto.

A ordem chega em meio a um crescente coro de sentimento contrário à Rússia em Washington, onde agências de espionagem e policiais dos EUA estão realizando diversas investigações para verificar o alcance total dos contatos que os assessores de Trump mantiveram com a Rússia durante e depois da campanha eleitoral de 2016.

O governo de Vladimir Putin justificou a decisão de reduzir a cobertura sobre Trump alegando que o povo russo já não se interessa pelos detalhes de sua chegada ao poder, de acordo com uma das pessoas. Na realidade, alguns dos segmentos de TV mais populares abordaram ideias que o Kremlin preferiria não fomentar, como a promessa de "se livrar do problema", disse a pessoa.

"Eles não vão jogar uma chuva de críticas sobre Trump, eles simplesmente não vão falar muito sobre ele", disse Konstantin von Eggert, comentarista de política da TV Rain, o único canal independente da Rússia, em entrevista por telefone. "O destino das relações entre a Rússia e os EUA está muito menos previsível do que há algumas semanas."

Mais que Putin

A ordem marca uma inversão abrupta em relação há poucas semanas. A inesperada vitória de Trump frente a Hillary Clinton em novembro foi amplamente comemorada na Rússia como o começo de uma nova era de cooperação entre os antigos inimigos da Guerra Fria. A campanha de Trump foi acompanhada com entusiasmo e apresentadores de notícias exaltavam a novidade de ouvir um candidato à presidência dos EUA elogiar Putin.

Mas a intensa cobertura foi longe demais para o gosto do Kremlin. Em janeiro, Trump recebeu mais menções na mídia do que Putin, e o líder russo foi relegado ao segundo lugar pela primeira vez depois de ter retornado ao Kremlin em 2012, após quatro anos como primeiro-ministro, de acordo com dados da Interfax.

A imprensa russa "define suas políticas editoriais com total independência" e é "completamente absurdo" que tenha recebido alguma ordem para reduzir a cobertura sobre Trump, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov a jornalistas em uma teleconferência nesta sexta-feira.

Tweet sobre a Crimeia

Na quarta-feira, Trump acusou Putin de ter se apropriado da Crimeia da Ucrânia em uma série de publicações no Twitter feitas em meio a uma enxurrada de acusações de que sua equipe tem vínculos com a Rússia.

"A Crimeia foi ARREBATADA pela Rússia durante o governo Obama. Obama foi brando demais com a Rússia?", tuitou o presidente dos EUA.

Autoridades da Rússia, que imediatamente fizeram comentários à imprensa local sobre notícias anteriores de Washington, de repente se tornaram menos comunicativas depois do comentário sobre a Crimeia.