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Mães alemãs não conseguem mais trabalhar em tempo integral

Carolynn Look

20/02/2017 12h55

(Bloomberg) -- Para muitas mães na Alemanha, trabalhar em tempo integral está se tornando coisa do passado.

Esta é a conclusão de um estudo que abrange o período da história recente do país e revela a diferença de política familiar entre o leste comunista e a Alemanha Ocidental.

No primeiro, a tradição de mães que trabalhavam em tempo integral ruiu para se adequar às práticas dominantes no Ocidente. E agora, em todos os lugares, as mulheres cada vez mais ficam em empregos de meio período após o nascimento de um filho, e não como um primeiro passo antes de passar a empregos em tempo integral, de acordo com um artigo recente publicado no periódico acadêmico "Feminist Economics" por Nadiya Kelle, Julia Simonson e Laura Romeu Gordo.

A reunificação do país, em 1990, deu início a um período de convergência em que a antiga Alemanha Oriental adotou indiscriminadamente as políticas do Ocidente ? inclusive em relação a impostos, transferências e famílias. Novos incentivos foram introduzidos para que as mulheres da Alemanha Oriental pudessem sair da força de trabalho mais facilmente depois do nascimento de um filho e reformas concederam benefícios a famílias em que um dos pais trabalhava apenas uma quantidade limitada de horas por semana.

Para as mulheres da Alemanha Ocidental, a flexibilidade dos trabalhos em tempo parcial foi o que permitiu a muitas delas trabalhar. Mas na Alemanha Oriental, essa mudança ocorre após uma cultura de forte envolvimento feminino na força de trabalho, algo considerado crucial pelo antigo governo socialista para a emancipação das mulheres. O problema de passar muito tempo em cargos de meio período, explicam as autoras, é que esses empregos costumam estar concentrados em setores de baixa remuneração que mal oferecem contribuições à aposentadoria, crescimento salarial ou perspectivas de capacitação para avançar na carreira.

E, embora estejam se tornando mais disponíveis para mães que trabalham, as creches não costumam bastar para cobrir uma jornada de trabalho completa. Muitos jardins de infância e escolas fecham no começo da tarde.

"Esse modelo de um e meio está permanecendo e ficando ainda mais forte", disse Romeu Gordo, em entrevista por telefone. Equilibrar a divisão das horas de trabalho dentro da família "seria bom para mulheres e homens ? seria bom para a economia".

A Alemanha tem a mais baixa proporção de famílias em que ambos os país trabalham em tempo integral na Europa, depois da Holanda. Cerca de 80 por cento dos empregos de meio período na Alemanha são ocupados por mulheres, segundo a Agência Federal do Trabalho.

Um dos motivos talvez seja as normas culturais ? uma área em que o leste e o oeste do país continuam muito diferentes. As autoras citam um estudo que mostra que, em 2000, cerca de 55 por cento da população no oeste achava que a mãe de uma criança pequena não deveria estar empregada, em contraste com 36 por cento no leste.

Romeu Gordo disse que oferecer incentivos semelhantes aos da Suécia, onde ambos os pais são estimulados a reduzir proporcionalmente a quantidade de horas que trabalham, pode mudar concepções e acabar também ajudando as empresas a atrair profissionais ? "especialmente na Alemanha, onde o mercado de trabalho está prosperando e as companhias precisam disputar os trabalhadores bons".