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Ouro não está se comportando como deveria na teoria

Eddie van Der Walt

20/02/2017 11h56

(Bloomberg) -- O que funciona para o ouro na prática raramente funciona na teoria.

Os últimos três aumentos nos juros dos EUA, que deveriam ser ruins para o metal, se mantidas todas as outras condições, fizeram os preços subirem nos meses seguintes.

O ouro está em alta de cerca de 7 por cento desde que o Federal Reserve elevou os juros, em 14 de dezembro. O metal subiu 13 por cento no período de dois meses após o aumento anterior, realizado em dezembro de 2015, e 6 por cento no antecedente, em junho de 2006.

Em parte, as expectativas racionais e outros fatores estão servindo de obstáculo. Desta vez, um desses fatores é a presidência de Donald Trump. A incerteza sobre seu governo domina os mercados desde a eleição, em 8 de novembro.

Os metais preciosos inicialmente caíram porque os investidores tomaram nota da promessa de Trump de acelerar a economia com investimentos em infraestrutura. Isso elevaria os retornos sobre ativos como as ações e limitaria os rendimentos de refúgios como o ouro.

Contudo, como até agora Trump se centrou em outros assuntos, a tendência foi rapidamente interrompida e revertida. O aumento dos juros do Fed em dezembro mais uma vez se transformou em piso para o ouro e as expectativas de novas altas do banco não impediram novos aumentos nos preços.

"O mercado se preocupa mais antes do acontecimento do que depois", disse Ole Hansen, chefe de estratégia de commodities do Saxo Bank A/S, por e-mail. "Quando a alta dos juros saiu do caminho, surgiu um quadro mais equilibrado e isso, juntamente com um choque de realidade do possível impacto de Trump, fez o resto."

Os investidores do maior fundo negociado em bolsa apoiado pelo ouro compraram mais de 40 toneladas neste mês, ajudando a elevar os preços em mais de 7 por cento neste ano, para US$ 1.234 a onça. Houve aumentos sazonais antes do Ano Novo Lunar, em janeiro, quando os chineses costumam comprar ouro na forma de presentes.

"É quase como se houvesse um grande gestor de recursos entrando no mercado", disse Bernard Dahdah, um dos analistas mais precisos da Associação do Mercado de Lingotes de Londres. "Só vamos saber quem é no próximo trimestre."

Pelo menos um desses gestores se tornou público. O bilionário Stan Druckenmiller disse neste mês que comprou ouro em dezembro e janeiro devido à falta de clareza sobre a política do governo dos EUA.

Há outros motivos para buscar refúgio das incertezas políticas. Haverá eleições na Alemanha e nos Países Baixos em breve, enquanto o Reino Unido ainda não fechou as condições de sua saída da União Europeia.

Na França, a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, sugeriu que retomará o controle do banco central e imprimirá dinheiro para financiar a assistência social e que ao mesmo tempo tirará a França da zona do euro se ganhar a eleição presidencial do país.

"Os investidores ainda estão em busca de um refúgio", disse Eily Ong, analista da Bloomberg Intelligence.