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Eataly na Rússia não venderá parmesão nem presunto de Parma

Ilya Khrennikov e Ksenia Galouchko

25/05/2017 14h30

(Bloomberg) -- Faltavam poucos meses para que Yuri Tetrov abrisse a primeira Eataly da Rússia, um novo e gigantesco mercado e restaurante da provavelmente mais ambiciosa rede mundial de megadelicatessens italianas.

Então o presidente Vladimir Putin introduziu um embargo alimentar abrangente a iguarias europeias em retaliação às sanções impostas contra a Rússia. Em outras palavras: Tetrov estava prestes a abrir uma catedral de 7.432 metros quadrados dedicada à comida italiana que não poderia importar nem estocar itens básicos da culinária, como queijo parmesão ou presunto San Daniele, elaborados por seus produtores tradicionais.

Isso foi em 2014. Depois de um atraso de dois anos e meio, o local que parece uma caverna -- cerca de um terço maior do que um campo de futebol americano -- no centro de Moscou finalmente abrirá as portas.

Carnes e queijos de origem italiana continuam ausentes, apesar de as prateleiras estarem repletas de autênticos tomates San Marzano colhidos no sopé do Vesúvio, de pizza feita com farinha de trigo do Mulino Marino, moída em moinho de pedra perto de Turim, e de café Lavazza.

"Quando o embargo de alimentos foi introduzido, lembro que vimos a lista e ficamos perplexos. Descobrimos que não poderíamos importar produtos de queijo, a maioria dos produtos de carnes, peixes, frutas e legumes", disse Tetrov, em entrevista em Moscou. "Nós nos sentamos e dissemos: 'Ok, nada de pânico. Vamos planejar como vamos fazer.'"

Fornecedores russos

O que aconteceu depois foi uma busca de vários anos para encontrar fornecedores russos ou produtores de alimentos similares em países de fora das sanções comerciais. Em outros países, a Eataly produz queijos moles, como muçarela, em suas cozinhas, mas na Rússia a produção precisou abarcar também outros tipos de queijos, como gorgonzola e asiago. A empresa também foi buscar queijo na Suíça e chegou a viajar quase 1.000 quilômetros a partir de Moscou para obter carne, mel, frutas e legumes dos produtores russos.

Os queijeiros italianos viajaram diversas vezes à Rússia para verificar o leite para a muçarela e as variedades maturadas e rejeitaram várias amostras enquanto não encontraram um substituto aceitável.

Também ficaram de fora do cardápio o parmesão original Parmigiano-Reggiano, os queijos Grana Padano e os presuntos San Daniele ou de Parma, de acordo com Simone Tosato, diretor de franquia da empresa. Muitos queijos italianos são comercializados em toda a Europa como DOC, a Denominação de Origem Controlada, para garantir aos consumidores os ingredientes e processos utilizados na produção.

A Eataly, que espera explorar o apreço da Rússia pelos bens italianos, da alta costura à alta cozinha e aos carros velozes, não deixa de ver a ironia.

"É como uma loja Prada que não vende bolsas", disse Tosato.

A ambição da Eataly na Rússia fica evidente no tamanho da loja de Moscou, que será a segunda maior da rede, depois de Roma, superando todos os outros de seus cerca de 30 pontos espalhados de Seul a Nova York (será 60% maior que a loja principal no distrito de Flatiron). O restaurante tem capacidade para 950 pessoas, mais do que qualquer outro da Eataly.