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Inflação perto do piso abre sinal para BC e CMN

Josue Leonel e Vinícius Andrade

19/06/2017 16h11

(Bloomberg) -- A inflação dá sinais de viver nova fase de desaceleração, agora focada nos preços mais suscetíveis à fraca demanda, como os de serviços, ao contrário do movimento anterior, quando era a queda dos alimentos que pressionava para baixo os índices de preço. As expectativas melhoram e as estimativas se aproximam do piso da meta, de 3%, menos de um terço do pico de 10,71% em 12 meses atingido pelo IPCA um ano e meio atrás.

Com isso, mesmo em meio à crise política, o mercado vê sinal verde tanto para o Banco Central manter o corte da Selic em 1 ponto percentual da Selic quanto para o Conselho Monetário Nacional reduzir a meta de inflação de 2019 de 4,5% para 4,25%.

A inflação projetada para este ano, segundo a pesquisa Top 5 com os cinco economistas mais precisos do mercado, caiu para 3,16%, ficando muito perto do piso da meta válida para 2017, que é de 4,5% com 1,5 ponto de tolerância para cima ou para baixo.

Se ficar abaixo do piso no acumulado do ano, o que seria uma situação inédita no regime de metas do Brasil, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, terá de enviar uma carta com explicações ao ministério da Fazenda.

O presidente Michel Temer quer uma meta de inflação mais arrojada para 2019, em torno de 4%, disse à Bloomberg uma fonte que conversou com o presidente sobre o tema e pediu anonimato porque a discussão não é pública.

Luiz Fernando Figueiredo, sócio-diretor da Mauá Capital e que foi diretor do BC em 1999, quando o sistema de metas foi implantado, considera que o Brasil já está "maduro" para dar mais um passo em reduzir a meta na direção do patamar de outros países emergentes, em torno de 3%.

Ele considera, contudo, que esse caminho deve ser gradual. "Como estamos vindo de uma inflação muito alta nos últimos anos, esse movimento deve ser feito de maneira bem cautelosa", diz o ex-diretor do BC, que defende uma meta de 4,25% para 2019. "Esta nova meta sinaliza este avanço sem aumentar o custo da política monetária de maneira relevante, afinal as expectativas já estão em 4,25%."

As projeções de inflação para este ano estão mais próximas ao piso da meta, de 3%, do que ao centro da meta, de 4,5%, diz o economista Rodrigo Abreu, da Caixa Econômica Federal Asset. P

ara o economista, há um forte conjunto de fatores deflacionários no país, que incluem a recessão pressionando para baixo os preços de serviços e a queda do petróleo e minério de ferro. Mesmo a leve alta recente do dólar, causada pela crise política, não tem tido qualquer efeito negativo para a inflação.

Abreu também considera que o CMN, que vai se reunir em 29 de junho, poderá reduzir a meta de 2019 para 4,25%. Embora uma meta menor possa trazer custos, dado que o BC teria de agir com alta dos juros caso a inflação supere esse objetivo menor, o fato de a inflação já estar em nível muito baixo reduz o risco.

Ele mantém a previsão de que o BC vai desacelerar o corte da Selic para 0,75 ponto no Copom de julho, ainda como resultado do tom mais duro do comunicado da reunião anterior, mas sem descartar a manutenção do ritmo de corte de 1 pp.

O economista da Caixa Asset só espera o relatório de inflação do segundo trimestre, que sai esta semana, para "bater o martelo" sobre o corte da Selic, caso se confirme a expectativa de um tom mais ameno do BC, sobretudo em relação ao risco de a crise política prejudicar a aprovação da reforma da Previdência.

Para o Goldman Sachs, também não será uma surpresa se o BC deixar a porta aberta para um corte de 1 ponto da Selic. O relatório deve destacar os dados recentes benignos de inflação e a reancoragem completa de expectativas inflacionárias no curto e médio prazo, diz o banco americano em relatório.