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Contagem de esperma na China cria mercado de bilhões de dólares

Bloomberg News

13/07/2017 11h40

(Bloomberg) -- Em uma tarde recente, um visitante do norte da China saiu para fumar na porta do Hospital Família Perfeita em Pequim. O cigarro é um dos motivos que o levou à capital: ele considera que o vício de nicotina ajudou a prejudicar sua fertilidade.

O empresário do setor da construção, de 38 anos, que pediu para ser identificado com seu sobrenome, Zhang, trabalhou duro para montar uma empresa com sua esposa, que tem 35 anos. Mas, quando eles finalmente estavam prontos para ter filhos, foi uma luta. Assim, eles se tornaram mais um casal entre os milhões de chineses que recorrem ao mercado de reprodução assistida, que tem potencial para valer cerca de US$ 15 bilhões.

Um paradoxo surgiu na China: no momento em que o país finalmente relaxa sua política de um único filho, fatores como contagens de esperma mais baixas, gestações em idades mais avançadas e outros obstáculos de saúde tornam mais difícil engravidar. Como resultado, empresas da China, da Austrália e até mesmo da Califórnia estão se preparando para ajudar -- e lucrar com -- o crescente mercado de possíveis futuros pais.

As famílias no país mais populoso do mundo estão dispostas a pagar muito dinheiro por tratamentos de fertilidade. Zhang disse que seu tratamento de fertilização in vitro (FIV) custou 100 mil yuans (US$ 14,7 mil) em cada tentativa.

"Agora que nossas condições econômicas estão melhores, todos queremos filhos, mas é difícil para muitos de nós", disse ele, fumando seu segundo cigarro. "Todos os anos de fumar, beber e ir a jantares empresariais tiveram um preço. Para mim e para minha esposa é difícil conceber naturalmente e precisamos de ajuda."

Mudança no estilo de vida

Durante décadas, os casais das zonas urbanas da China só podiam ter um filho. No entanto, a fim de aumentar a força de trabalho, atualmente em declínio, o país acabou com essa política em 2015. O mercado de FIV na China foi avaliado em US$ 670 milhões em 2016 e deverá crescer para US$ 1,5 bilhão em 2022, de acordo com a BIS Research. Supondo que 65% dos casais inférteis optem por buscar um tratamento, o mercado total de reprodução assistida poderia chegar a valer cerca de 107 bilhões de yuans usando um custo médio de até 40 mil yuans, segundo estimativas da corretora Hua Chuang Securities.

A contagem de espermatozoides (medida pelo número de espermatozoides por mililitro) caiu muito significativamente na China, de 100 milhões no início da década de 1970 para apenas 20 milhões em 2012, de acordo com Yanzhong Huang, membro sênior de saúde global no Conselho de Relações Exteriores. Os níveis de estresse mais elevados provenientes do desenvolvimento econômico, a poluição, o casamento tardio e o parto tardio, o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas podem ser fatores que contribuem para isso, disse ele.

Um estudo na região central da China mostrou que apenas cerca de 18% dos testados tinham sêmen suficientemente saudável para serem doadores de esperma em 2015. Esse número havia sido muito maior em 2001, 56%, de acordo com o estudo, que foi publicado neste ano na revista médica Fertility & Sterility. Além disso, muitas mulheres chinesas estão optando por ter filhos mais tarde, porque buscam carreiras profissionais.

No entanto, o desejo de ter filhos biológicos é grande, e isso está impulsionando a demanda por serviços como a FIV.

"A reprodução assistida se tornou um dos campos de maior potencial de crescimento rápido no mercado médico da China", disseram analistas da Haitong Securities em um relatório de janeiro.