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Em meio a julgamento, PT combate imagem de Lula 'radical'

Simone Iglesias e Samy Adghirni

16/01/2018 09h30

(Bloomberg) -- O PT deverá lançar em fevereiro uma nova "Carta ao Povo Brasileiro", em meio ao nervosismo do mercado com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O documento será apresentado em meio às comemorações do aniversário de 37 anos do PT, na segunda quinzena de fevereiro, disse a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann, à Bloomberg.

A intenção da carta, que já está sendo redigida pelo ex-presidente e sua equipe, é apresentar o modelo de desenvolvimento econômico para o país, se o PT voltar à Presidência.

 "É uma carta de política econômica e de economia, mostrando quais as pretensões que Lula tem para o Brasil", disse Gleisi. "Lula pode ser considerado tudo, menos um radical (...) Todo mundo ganhou com o governo do presidente Lula, inclusive o mercado financeiro", complementou.

'Carta' de 2002

O documento, expediente já usado em 2002 e que ajudou a eleger Lula para o primeiro mandato, será divulgado em meio ao julgamento do petista por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O ex-presidente foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e meio de prisão e, se a sentença for mantida no dia 24, ele ficará inelegível, podendo recorrer da decisão.

Em junho de 2002, véspera da corrida presidencial à sucessão do tucano Fernando Henrique Cardoso, o petista apresentou um documento em que dizia que todas as suas decisões seriam fruto de ampla negociação nacional e capazes de assegurar o crescimento com estabilidade.

Naquele ano, havia o temor de que, após a consolidação do Plano Real e a afirmação da economia, uma eleição de Lula e do PT colocasse por terra o esforço feito para garantir estabilidade econômica ao país.

Segundo Gleisi, o documento deste ano será de alguém já testado pelo mercado e que, quando presidente, cumpriu todos os compromissos e contratos assumidos.

"Em 2002, Lula não era conhecido e as pessoas tinham medo. Agora, será uma carta feita por quem todos sabem que cumpre as regras", afirmou. A dirigente considerou ainda que o ex-presidente sempre agiu como um "mediador" e "pacificador", o que deverá se repetir se eleito.

Reformas política e da Previdência

A dirigente afirmou que o lançamento da candidatura de Lula dia 25 de janeiro, um dia depois do julgamento pelo TRF-4, não é uma afronta à Justiça porque se dará dentro da legalidade e em meio à apresentação de recursos. O prazo legal para registro de candidaturas é 15 de agosto.

Segundo Gleisi, uma das prioridades de Lula, se eleito, será convocar uma Assembleia Geral Constituinte para, entre vários temas, fazer a reforma política. Haverá também uma reforma previdenciária focada no setor público.

Partido teria aprendido com os erros

Gleisi admitiu que os governos do PT cometeram erros na condução da economia, citando as desonerações no governo Dilma Rousseff, que afetaram a arrecadação do estado. Disse que esses equívocos não se repetirão porque o partido aprendeu com o passado.

Depois de se aliar nas duas últimas eleições à Presidência ao PMDB, este ano, disse Gleisi, os aliados preferenciais para vice de Lula são PSB, PCdoB e PDT.

No entanto, para governar, a senadora não exclui o apoio de peemedebistas, já que é preciso, no seu entendimento, administrar com as forças eleitas pela população. Quando se ganha uma eleição, é preciso governar com "o que o país mandou para Brasília", disse Gleisi. "Obviamente que você vai fazer mediações e [... ] muitas vezes vai ter que fazer [aliança] com gente que você não gosta."

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