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Fundo de pensão canadense quer triplicar investimentos no Brasil

Paula Sambo, Cristiane Lucchesi e Vinícius Andrade

24/09/2018 09h00

(Bloomberg) -- O maior fundo de pensão do Canadá está planejando triplicar os investimentos no Brasil, mas muitos negócios estão congelados por causa das eleições de outubro.

"Há menos oportunidades, com certeza", disse Rodolfo Spielmann, chefe da América Latina do Canada Pension Plan Investment Board, ou CPPIB. O Brasil está em ritmo de "esperar para ver", disse.

O fundo, que administra US$ 284 bilhões (367 bilhões de dólares canadenses), planeja aumentar os ativos no Brasil para cerca de 12 bilhões de dólares canadenses em uma tentativa de crescer sua exposição a ativos de mercados emergentes -- que têm potencial para proporcionar mais rendimentos-- para um terço de seu portfólio nos próximos sete anos, disse Spielmann.

O fundo detém atualmente cerca de 85 porcento de seus ativos fora do Canadá, incluindo 3,4 porcento na América Latina, ou 12,3 bilhões de dólares canadenses. O objetivo é aumentar para 30 bilhões de dólares canadenses, disse Spielmann, em uma entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo. O CPPIB teve um retorno anualizado de cerca de 12 porcento em dólar nos últimos cinco anos.

No Brasil, o fundo está olhando oportunidades no setor imobiliário, inclusive residencial, de saúde, educacional e de infraestrutura, segundo Spielmann. Ele citou empresas de distribuição da maior concessionária de energia do Brasil, a Eletrobras, e a privatização da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) como possíveis alvos para o CPPIB. O fundo precisaria se aliar a um operador local se quiser participar de leilões de distribuidoras da Eletrobras, disse ele.

México também

Pelo menos US$ 33 bilhões em fusões, aquisições e vendas de ações e títulos estão parados no Brasil à espera das eleições, de acordo com cálculos da Bloomberg. A Petrobras teve seu programa de desinvestimento bloqueado pelo juiz do STF, Ricardo Lewandowski, que determinou em julho que qualquer venda da empresa estatal, incluindo subsidiárias, tenha de ser aprovada pelo Congresso. A decisão forçou o adiamento de negócios, incluindo a venda de uma unidade, a TAG, um gasoduto no Nordeste do Brasil, em uma transação que poderia chegar a US$ 8 bilhões, da qual o CPPIB participa como parte de um grupo de investidores que são possíveis compradores.

Os US$ 33 bilhões em transações presas no limbo não incluem leilões para vender 12 aeroportos, quatro ferrovias e seis rodovias que foram adiadas para o próximo ano.

Mas Spielmann não está preocupado: quando forem reabertas as oportunidade de M&A e de oferta de ações, o fundo está planejando retomar investimentos, inclusive em IPOs, visando comprar pelo menos 10 porcento das empresas para estar presente em conselhos de administração.

A preocupação de que o vencedor nas eleições de outubro seja um governo mais radical, o que parece cada vez mais provável à medida que os moderados encontram dificuldades para atrair apoio, ajudou a empurrar o Ibovespa para baixo em 25% em dólares nos últimos seis meses.

Depois de anos de constantes fluxos de entradas, fundos negociados em bolsa chamados de ETFs focados no Brasil viram o dinheiro fugir por dois meses consecutivos.

Nascido na Argentina, Spielmann trabalhou na Bain & Co. por 21 anos, 14 deles no Brasil, antes de ingressar no CPPIB em 2014.

Ele também está vendo algumas oportunidades "muito interessantes" na área de infraestrutura no México. "O México está sob pressão, mas acreditamos que, a longo prazo, é um lugar para investir".