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Por que a vida ficou tão cara nas grandes cidades do planeta

Vista Aérea Londres - Getty Images
Vista Aérea Londres Imagem: Getty Images

Prashant Gopal e Rob Urban

21/10/2019 12h51

(Bloomberg) — No mundo inteiro, há cidades com falta de moradias acessíveis. Na maioria das grandes áreas urbanas, o trabalhador médio não ganha o suficiente para viver, espalhando a ideia de que uma casa decente é um privilégio apenas de quem tem muito dinheiro.

Com isso, se colocam diversas questões difíceis: Dá para permitir que novos apartamentos de luxo em Londres (muitos dos quais comprados por estrangeiros) fiquem vazios enquanto milhares estão na fila de espera por residências para a população de baixa renda? Se quem se muda para Pequim em busca de uma vida melhor acaba morando em locais arriscados e ilegais, para onde vai essa gente quando essas estruturas precárias forem demolidas?

E talvez o quadro piore. A parcela da população mundial vivendo em cidades deve aumentar de 55% atualmente para 68% em 2050.

A situação

O aumento dos preços tornou a moradia significativamente inacessível em 58% das principais cidades do mundo. Era menos da metade cinco anos atrás, segundo um levantamento anual da empresa de pesquisas Demographia. Isso significa que comprar uma casa de preço mediano custa mais de 4,1 vezes a renda anual mediana.

Um apartamento típico em Hong Kong custa HK$ 7.169.000 (US$ 916.225), quadro que contribui para as manifestações populares. Em Berlim, uma campanha resultou em um plano radical de congelar aluguéis por cinco anos. Vancouver, no Canadá, implementou um imposto sobre casas vazias. Nova Orleans e Atenas lidam com o impacto de aluguéis temporários do tipo Airbnb, que efetivamente deixam milhares de residências disponíveis para turistas.

Histórico

No século 19, agricultores que se mudavam para as cidades se amontoavam em moradias precárias próximas às fábricas. Agora, companhias de tecnologia, saúde e finanças atraem multidões de profissionais qualificados, provocando a chamada gentrificação dos bairros de fácil acesso. Isso afasta professores, enfermeiros, bombeiros, faxineiros e outros trabalhadores braçais, agravando a desigualdade. Também aumentou a concorrência com investidores internacionais e institucionais, que alocaram dinheiro em imóveis porque uma década de juros baixos reduziu o retorno de outros tipos de ativos.

A oferta de imóveis não acompanhou. Desde a década de 1980, os EUA e o Reino Unido diminuíram o investimento em habitação subsidiada. Nos EUA, o número de residências com aluguel baixo diminuiu em 4 milhões desde 2011 e cerca de 47% dos locatários gastam mais de 30% de sua renda em habitação. O quadro contribuiu para a disparada da população em situação de rua em algumas das cidades mais ricas do país.

Argumentação

Para os críticos, o controle de aluguéis é uma solução grosseira que pode sair pela culatra, afugentando investidores e novas construções e desestimulando a manutenção dos edifícios, que acabam ficando em mau estado. Por outro lado, defensores da medida argumentam que limites nos preços dos aluguéis podem manter os bairros estáveis e desacelerar o ritmo de gentrificação.

Construtoras afirmam que frequentemente são forçadas a focar em condomínios para moradores de alta renda porque mão de obra, materiais e, especialmente, terrenos ficaram muito caros. Segundo essas empresas, as autoridades poderiam ajudar ao flexibilizar leis de zoneamento, relaxar códigos de construção e derrubar protestos de moradores que não desejam determinadas obras em sua vizinhança. Uma solução polêmica — que vem ganhando apoio — é obrigar mais bairros a aceitar maior densidade populacional, uma abordagem que é favorecida há muito tempo pelos urbanistas.