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Crise econômica da China causada por vírus traz lições ao mundo

13.mar.2020 - Funcionária checa temperatura corporal de homem antes dele começar a trabalhar em Hefei, na China - Liu Junxi/Xinhua
13.mar.2020 - Funcionária checa temperatura corporal de homem antes dele começar a trabalhar em Hefei, na China Imagem: Liu Junxi/Xinhua

Enda Curran e Jinshan Hong

17/03/2020 07h33

A crise econômica mais grave enfrentada pela China nas últimas décadas traz advertências e lições para o mundo com a probabilidade de países como Alemanha e Estados Unidos entrarem em recessão.

Primeiro, o surto atingiu os serviços e o consumo, já que o deslocamento de pessoas foi restringido, o que afetou companhias aéreas, hotéis, restaurantes e shopping centers. Isso agravou o colapso do setor manufatureiro, pois as linhas de montagem ficaram ociosas com trabalhadores em casa.

As lições oferecidas pela China incluem a necessidade de medidas urgentes para conter o vírus e de não subestimar o impacto econômico. Mas, acima de tudo, não esperar que os serviços sejam normalizados em pouco tempo.

Trinh Nguyen, economista sênior da Natixis, em Hong Kong, disse que o mundo enfrenta o que aconteceu na China em fevereiro. "Os choques de oferta e demanda agora se tornaram globais."

Algumas lições econômicas da China para o mundo:

Pode ficar pior

Economistas não conseguiram captar a gravidade da crise. Desde que os primeiros cortes na previsão do PIB começaram a ocorrer no fim de janeiro, houve uma sucessão de estimativas cada vez menores, já que as expectativas iniciais de uma recuperação rápida (ou em forma de V) evaporaram.

Dados divulgados na segunda-feira que mostraram queda histórica das vendas no varejo, da produção industrial e do investimento em ativos fixos —muito além do que os economistas previam - levam a mais cortes de projeções. O Macquarie espera retração de 6% neste trimestre em comparação com o ano anterior. Segundo um modelo da Bloomberg Economics, o PIB da China mostra desempenho cerca de 20% inferior na comparação anual nos dois primeiros meses.

Não há tempo a perder

A resposta inicial da China recebeu críticas diante de informações de que autoridades em Wuhan encobriram alertas sobre o surto. Esse atraso agravou o bloqueio necessário para controlar o vírus. É uma lição que outros países parecem ter ignorado, com acusações de que governos de Washington a Tóquio demoraram para agir, o que deixou bancos centrais e ministérios das Finanças fazendo malabarismos para aliviar a crise.

"Penso que, para todos países com apenas uma dúzia de casos e talvez apenas alguns novos casos por dia, sentindo-se relativamente incólumes, uma semana pode mudar bastante isso", disse Robert Carnell, economista-chefe da Ásia-Pacífico do ING Groep, em Cingapura.

Serviços

O setor de serviços na China foi mais afetado do que a manufatura. Na semana passada, economistas do Barclays estimaram queda da produção de cerca de 70% na comparação anual em fevereiro, antes de melhorarem a estimativa para uma queda de 40%-45%. No setor de manufatura, a retração seria de 30% a 35%.

Mercados

Autoridades de Pequim agiram rapidamente para apoiar os mercados financeiros com liquidez, evitando o tipo de volatilidade que abalou o resto do mundo. O mercado acionário está entre os 20 maiores do mundo que ainda não entraram em território baixista.

Nos EUA, autoridades só agiram quando o índice S&P 500 despencou 11% em uma semana. Ainda assim, a resiliência da China pode ter começado a perder força.

(Com a colaboração de Lisa Du, James Mayger, Yinan Zhao e April Ma)

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