IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

Muitos sobreviventes temeram ficar para sempre no Himalaia nepalês

18/10/2014 06h20

Manesh Shrestha.

Katmandu, 18 out (EFE).- Muitos dos sobreviventes das tempestades de neve que causaram a morte de 29 pessoas nas montanhas do Nepal, onde ainda há uma centena de desaparecidos, pensaram que nunca retornariam com vida do local por causa das adversas condições meteorológicas que tiveram que vencer.

"Pensei que ia morrer", contou neste sábado à Agência Efe o polonês Eitan, de 31 anos, que preferiu não revelar seu sobrenome, enquanto se recupera em um hospital de Katmandu, com as mãos congeladas.

Ele permaneceu ao ar livre a 5 mil metros de altitude junto com vários compatriotas e um israelense entre da noite da última terça-feira e quarta-feira, quando foi resgatados.

Outras 12 pessoas das 29 mortas em diferentes pontos do Himalaia nepalês, não tiveram tanta sorte e acabaram perdendo a vida na região de Annapurna, onde também se encontrava o grupo de Eitan.

Essas pessoas não sobreviveram ao tentarem atravessar a passagem de Thorung A, ponto máximo dessa rota que fica a 5.416 metros.

Cerca de 300 pessoas, entre elas o polônes, tinham passado uma noite no único refúgio aberto da região, chamado de Campo Alto, antes da passagem e situado a 4.850 metros.

Os montanhistas começaram a sair da cabana em grupos, a partir das 3h do dia seguinte no horário local, segundo testemunhos de proprietários de albergues na aldeia de Muktinath e na cidade de Jomsom, localizadas depois da passagem.

"Pelo que foi dito, os que partiram mais cedo sobreviveram à nevasca", declarou à Efe o proprietário de um hotel em Jomsom, Krishna Mohan Gauchan.

"Seguiram as mulas que estavam com eles e os animais não perdem o caminho, mesmo coberto de neve", destacou o hoteleiro.

Eitan partiu em direção da montanha por volta das 4h, quando ainda estava nevando.

"Nos disseram que a tempestade passaria em uma hora", explicou.

No entanto, ninguém na montanha parecia saber que a forte nevasca era algo incomum na rota durante essa época do ano, que costuma ser a ideal para o montanhismo exatamente por causa do bom tempo no Himalaia.

O repentino mau tempo era um dos efeitos da passagem de um ciclone pela vizinha Índia, fato alertado pelos meteorologistas no Nepal. Nenhuma notícia ou aviso foi dado aos montanhistas.

Quando o grupo de Eitan chegou por volta das 10h da manhã ao pico, encontrou cerca de cem pessoas amontoadas em uma cabana de apenas 40 metros quadrados, com pouca visibilidade no exterior por causa da tempestade de neve.

"Ninguém sabia o que fazer", lembrou o polonês, revelando que alguns tentaram descer, mas em breve retornaram porque não conseguiam encontrar o caminho no meio da neve e dos fortes ventos.

O proprietário do refúgio disse então que fecharia o local e se ofereceu para guiá-los em troca de 1.000 rúpias nepalesas por cada pessoa (cerca de R$ 25).

Após uma breve negociação, 70 pessoas aceitaram pagar metade do valor na hora e o restante ao chegar em Muktinath. Os demais montanhistas decidiram permanecer e esperar a quarta-feira.

"No caminho encontramos uma menina gritando por ajuda. O proprietário disse que tinha ficada em pé e estava acabada", antes de desaparecer da visão do grupo, disse Eitan.

Eles seguiram caminhando na escuridão e foram se separando, já que alguns ficaram para trás.

Por volta das 23h, Eitan, outros dois poloneses e um israelense optaram por parar, esgotados.

"Foi quando eu disse a mim mesmo que ia morrer. Pelo menos poderia fazê-lo de forma confortável, por isso tirei algo quente da mochila e coloquei no chão. Não tínhamos comida nem bebida. Nossa água estava congelada e tentavamos esquentá-la", lembrou.

A cada 15 minutos eles trocavam perguntas, questionando se todos estavam vivos. Ao amanhecer, retomaram a caminhada e poucas horas depois foram resgatados.

Apesar disso, cerca de 100 pessoas ainda seguem desaparecidas nas montanhas do Himalaia nepalês.