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Após meses de queda, preço do petróleo termina o ano longe da recuperação

25/12/2014 22h19

Agustín de Gracia.

Nova York, 25 dez (EFE).- O preço do petróleo entra na reta final do ano incapaz de superar a queda vertiginosa dos últimos meses, motivada pelo excesso de oferta no mercado, em parte devido ao "boom" do petróleo não convencional dos Estados Unidos.

O Petróleo Intermediário do Texas (WTI, leve), de referência nos Estados Unidos, fechou na quarta-feira em US$ 55,84 o barril, cerca da metade dos US$ 107,26, seu preço máximo no ano, registrado em 20 de junho.

Nos quatro dias que restam de operações para o petróleo em 2014, os analistas descartam qualquer movimento brusco e as apostas já se focam em até onde pode estar a base de um preço que está há meses aos trancos e que pode cair mais.

Stephen Schork, que elabora um boletim especializado em energia, sustenta que se notou um aumento na quantidade de operadores que estão apostando em um preço do barril em US$ 40 dólares para o fim do próximo mês.

"Se há um mercado ativo de um preço abaixo dos US$ 40 agora, não posso antecipar que estejamos nem sequer perto de chegar ao fundo do poço", declarou o analista à emissora "CNBC".

A queda do preço do WTI e do Brent, o barril de referência na Europa nos mercados globais, se aguçou desde que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiu no final de setembro não limitar sua produção.

A reunião de ministros desse cartel terminou sem decisões, apesar de alguns países, como a Venezuela, tentarem reduzir a produção perante a diminuição da demanda e as perspectivas de que o crescimento do consumo de energia está se reduzindo.

A Opep se encarrega de produzir um terço do petróleo que se consome no mundo, 90 milhões de barris diários, enquanto a produção própria de alguns países como os Estados Unidos força esse cartel a buscar meios para assegurar seu mercado.

O fato é que desde que, em 2008 no Texas, começou a explorar as primeiras jazidas de petróleo "shale", obtido de formações de rochas de xisto, os Estados Unidos vieram reduzindo sua dependência dos mercados externos.

Em dezembro de 2007, antes que começasse o "boom" do petróleo não convencional, os Estados Unidos produziam 5,1 milhões de barris diários em seus campos tradicionais. Em setembro deste ano, por outro lado, sua produção chegou a 8,9 milhões.

A Agência Internacional de Energia (AIE), em um relatório que divulgou no início deste mês, calcula que os Estados Unidos serão autossuficientes em matéria energética em 2035, levando em conta a tendência do crescimento de sua produção de hidrocarbonetos.

A produção nos Estados Unidos é a terceira maior no mundo, depois da Arábia Saudita e da Rússia. A AIE calcula que, para 2015, os Estados Unidos produzirão 1,3 milhão de barris diários a mais que os deste ano.

Em dezembro de 2007, os Estados Unidos importaram 9,8 milhões de barris diários de petróleo. Em setembro de 2014, no entanto, esse número alcançou os 7,5 milhões, segundo os últimos dados disponíveis do Departamento de Energia.

Se forem consideradas as vendas de petróleo que a Opep fez aos Estados Unidos, em 2008 foi registrada uma média de 5,41 milhões de barris diários, que em 2013 caiu para 3,49 milhões, enquanto em setembro deste ano já era de 2,90 milhões.

Por isso, a decisão da Opep de manter seus atuais níveis de produção foi interpretada como uma tentativa de deixar que os preços sigam caindo para que os poços de petróleo "shale" dos Estados Unidos, o maior consumidor mundial de petróleo, deixem de ser rentáveis.

Na bacia de Permian, no Texas, a que tem mais poços de petróleo não convencional, os cálculos feitos por especialistas indicam que o petróleo pode chegar a ser rentável com um preço mínimo de até US$ 57 o barril.

Essa bacia está perto das refinarias do Golfo do México, mas na de Bakken, em Dakota do Norte, a segunda em número de poços e com maiores custos de transporte, o preço mínimo de rentabilidade é de US$ 61, e a pressão começa a se fazer notar.

Por isso, a Arábia Saudita, que produz 9,6 milhões de barris diários de petróleo, não parece ter pressa em reduzir sua produção, de acordo com declarações feitas nesta semana pelo ministro do Petróleo do país, Ali bin Ibrahim Al-Naimi.

"Pode ser que o petróleo caia para US$ 20 o barril. É irrelevante", afirmou.