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Empresariado espanhol no Brasil se divide perante a desvalorização do real

27/02/2015 22h46

São Paulo, 27 fev (EFE).- O empresariado espanhol que opera no Brasil se mostra dividido diante da crescente desvalorização do real em relação ao dólar - que em 2014 foi de 12,9% e que neste ano acumula uma variação negativa de 7,28% -, segundo opinou a diretora-executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, María Luisa Castelo.

Castelo declarou à Agência Efe que as variações cambiais podem representar um "efeito duplo" para as empresas estrangeiras no Brasil.

"Se consideramos somente o lucro obtido no Brasil e remitido às matrizes, sabemos que haverá um valor menor enviado para fora do Brasil, o que pode ser visto então como um fator negativo", ressaltou a diretora-executiva da principal associação de empresas espanholas no país.

No entanto, "se pensamos no montante em euro que as matrizes enviam para as filiais, sabemos que há uma maior valorização no Brasil, o que representa um efeito positivo para as companhias", ressaltou.

A Espanha é o segundo maior investidor estrangeiro no Brasil, depois dos Estados Unidos, e o país é o principal destino de investimentos espanhóis no exterior.

Apesar da forte flutuação cambial durante 2014 no Brasil, as principais multinacionais espanholas que atuam no mercado brasileiro apresentaram resultados anuais positivos.

Por exemplo, o lucro líquido no país do grupo de seguros Mapfre em 2014 foi de R$ 1,6 bilhão, o que representa um crescimento de 40,5% frente a 2013.

Para o banco Santander, o Brasil continua sendo o país onde o grupo financeiro espanhol registrou os melhores resultados, já que o lucro líquido no ano passado alcançou US$ 1,766 bilhão, 1,3% menos frente aos números de 2013.

No país, dentro da conta de resultados, a margem líquida caiu 13,5%, enquanto os créditos concedidos aos clientes se elevaram 11,9% e os depósitos captados, 11,5%.

A Telefônica Brasil, por sua vez, obteve em 2014 um lucro líquido de R$ 4,93 bilhões, o que representa um aumento de 32,9% com relação ao ano anterior, de acordo com o balanço apresentado pela filial da companhia espanhola.

Apesar da desvalorização do real, que encarece as importações, os analistas do mercado financeiro mantém sua aposta de que o Brasil segue atrativo para os investidores internacionais.

Os analistas privados do mercado, consultados semanalmente pelo Banco Central, apontaram em seu último relatório que o investimento estrangeiro para este ano chegará a um acumulado de US$ 60 bilhões.

"O câmbio competitivo, de R$ 2,90 por dólar, é a taxa real que estimula a dotação orçamentária de recursos nos setores de maior produtividade e garante o crescimento econômico de longo prazo", disse à Agência Brasil o professor de economia da Universidade Federal Fluminense, André Nassif.

Para o economista da empresa de consultoria Simplific Pavarini e professor da universidade Ibmec, Alexandre Espírito Santo, "o dólar em uma taxa de equilíbrio ajuda a recuperar a indústria de manufaturados" e contribui ao ajuste das contas do país.

No entanto, para o economista Sydney Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO, o Brasil terá dificuldades para atrair o capital estrangeiro em 2015 e advertiu sobre os riscos da especulação que se viveu nos dois primeiros meses deste ano.

Diversos analistas consultados pela Efe concordaram em que, apesar das intervenções diárias no mercado futuro de dólares para conter a desvalorização, o governo não aplicará medidas radicais no câmbio.

No meio deste cenário de volatilidade cambial, o Brasil acumulou em 2014 um déficit de US$ 90,9 bilhões em sua conta corrente, equivalentes a 4,17% do PIB e que representam o pior resultado desde 2001, de acordo com o Banco Central.