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Cepal prevê ano de ajustes e freio para economia na América Latina

05/03/2015 15h35

Brasília, 5 mar (EFE).- A economia latino-americana freará este ano, que deverá ser de ajuste fiscal na região, em particular pela queda no valor das matérias-primas, disse nesta quinta-feira à Agência Efe a secretaria executiva da Cepal, Alicia Bárcena.

Ela explicou durante uma visita a Brasília que até agora a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe esperava um crescimento regional de 2,2% em 2015, mas admitiu que o cenário atual impõe a revisão desta meta para baixo.

Segundo Bárcena, 2015 será um ano "difícil, que significará uma transição para as economias da América Latina, que continuarão a sentir o impacto das turbulências nos países mais desenvolvidos".

"Há uma desaceleração econômica no mundo inteiro que, no caso da América Latina, se agrava com a queda dos preços do petróleo e das matérias-primas em geral, que ainda são os principais produtos de exportação regional", indicou.

Bárcena ponderou que "os preços da soja podem se recuperar" este ano, mas esclareceu que isso só seria "uma boa notícia" para poucos países, entre eles Argentina e Brasil, dois dos maiores produtores do grão.

O cenário atual tem "forte conexão com o clima econômico mundial", que continua sendo sombrio, em particular pela "lenta recuperação" da economia europeia.

"A Europa absorve 30% das exportações mundiais e sua recuperação é muito lenta, o que acaba por afetar todos", assinalou.

Sobre a leve melhora observada nos Estados Unidos, Bárcena considerou que "pode beneficiar principalmente o México, os países das América Central e talvez também o Brasil, com quem tem uma relação intensa", mas não à região como um tudo.

A esses fatores externos, somou a desaceleração da economia chinesa, que na última década se transformou em um dos destinos preferenciais das matérias-primas latino-americanas.

Na opinião de Bárcena, 2015 será um ano de "transição" e ajuste para muitas economias da América Latina.

Embora tenha observado que "há países que têm mais espaço que outros para aplicar ajustes em matéria fiscal, em geral haverá outro olhar sobre o gasto público, que tenderá a diminuir após uma década de forte expansão".

Apesar desse quadro, explicou que a Cepal mantém "uma expectativa cautelosa" em relação a este ano, mas "confiança" de que a economia regional melhorará seu desempenho em 2016, em parte "graças aos esforços que forem feitos agora".

Nesse sentido, considerou que deve ser realizado um profundo debate regional sobre investimentos.

"A América Latina está em um momento de sustentar os investimentos" e evitar que os fluxos de capital diminuam em um momento de clara desaceleração econômica, advertiu.

Nesse sentido ela destacou que "em linhas gerais a região tem estruturas produtivas mais maduras" que, principalmente nos casos de Brasil, México e Argentina, podem servir de base para uma retomada do crescimento.

Sobre a Venezuela, a secretária executiva da Cepal afirmou acreditar que, além de superar seus problemas políticos, deve "avançar em políticas econômicas e industriais que permitam diversificar sua matriz produtiva", que depende exclusivamente do petróleo.

"É um país que nos últimos anos melhorou muitíssimo todos seus indicadores sociais, mas que deve reduzir sua dependência do exterior", apontou.

Sobre a visita a Brasília, Bárcena destacou que o "Brasil sempre foi uma referência em políticas sociais, por seus programas, e do ponto de vista da gestão, que inclusive inspirou a criação de um novo organismo subsidiário da Cepal de desenvolvimento social", que terá sua primeira reunião em outubro, no Peru.